06 outubro 2006

mas isto é?

atire a primeira pedra quem nunca torceu o nariz para uma obra de arte de vanguarda. vou a todas as Bienais que posso e sempre me deparo com coisas que me levam à pergunta arrogante e clássica: “mas isto é arte?”.

pois três obras foram vetadas na 27ª Bienal Internacional de São Paulo, que abre neste sábado. eu, que ando me coçando para ver esta Bienal e torcer o nariz diante das instalações que não compreendo, fiquei pensando em que limites andamos, na arte contemporânea, e concluí sabiamente que, bem, não há limites.

uma obra vetada seria composta de garrafas iguais às da Antarctica, contendo guaraná produzido pelos artistas e com o rótulo “guaraná power”. certo, certo.

um artista queria instalar aguapés no Lago do Ibirapuera. não entendi o conceito, mas lembro que aquele lago estava infecto na última vez que o vi, com peixes mortos e uma água tão límpida quanto um tonel de coca-cola. periga os peixinhos serem mais conceituais que os aguapés.

outro queria instalar seis bloqueadores de celular para impedir as ligações em todo o prédio da Bienal. a curadoria permitiu que instalasse apenas um, com raio de ação de 20 metros. não sei se o criativo queria criticar a sociedade pós-moderna e seu excesso de comunicação fútil e histérica, mas acho que ele daria um ótimo diretor de presídio. piu piu.

13 comentários:

Graziana Fraga dos Santos disse...

confesso que fico sem entender a maioria das coisas que vejo na Bienal :)
mas ,enfim, é arte...

Rosamaria disse...

já fiz mil vezes a pergunta, pinta, e não me acostumo com o que vejo chamarem de arte, pelamordedeus!

Elis disse...

Ei Marcia! Atrasado, mas em tempo: quando perguntaram ao Clodovil qual seriam as suas propostas para o mandato, a flor mandou um "eu não sei, ainda nem pensei nisso!". Abafa. Depois disso, nenhum jornalista ficará sem o leitinho das crianças. ;o)
Bienal: o que eu mais gosto nela é o povo que fica olhando para aquela obra bem estapafúrdia com cara de entendido-compenetrado, mas na verdade tá é pensando no barraco que vai rolar na novela das sete.
Êta "nóis".
Bj e obrigada pelo link.

Anônimo disse...

Pinta, acho que dá para traçar uma analogia com esta dúvida fundamental do "isto é arte?" com o meu questionamento do post anterior... "isto é tema de doutorado?", salvaguardando que um doutorado pode (e deve) trazer consequências diretas mais rapidamente que a pura arte.

Agora, quem for tímido não pode ir à exposições comigo porque de vez em quando não resisto e solto uma gargalhada!!! :D

Beijo,

PS.: Vai lá na Elis ver o que escrevi prá você!!!

Marcia disse...

Grazi, eu também. mas confesso que gosto da sensação de estranhamento.

Rosa, eu sou suspeita porque geralmente gosto dos clássicos. fico parada na frente das instalações, buscando "entender".
e talvez este seja o nosso erro: porque arte não é necessariamente para ser entendida, mas fruída.
acho que deveríamos aprender mais sobre isso na escola e na universidade, para ter um pouco de formação que nos ajudasse a compreender a alma dos artistas. :)

Elias, eu vi numa Bienal uma cena que nunca vou esquecer. a moça da limpeza chegou com a pazinha e VARREU parte da areia que fazia parte de uma instalação.
confesso que na hora achei que fazia parte de uma performance (haha), mas depois vi que ela estava apenas cumprindo o seu trabalho - e na cabeça dela aquilo era apenas sujeira.

Leonardo, seu patife. amores blogosféricos costumam durar só até o próximo post, sabia? piu piu.
quanto às teses de doutorado... sim, tema difícil.
há produções que considero irrelevantes, mas não posso querer que todos pensem como eu (ah, tá, de vez em quando eu fico meio autoritária e quero, sim, mas passa logo).
e há produções totalmente equivocadas do ponto de vista metodológico. estas, sim, eu me atrevo a criticar. :o

Marcia disse...

ops. Elis, claro. :D

Anônimo disse...

"queiisso", Márcia! Sou fiel feito um patife. ;)

bjs

Marcia disse...

Leonardo, fiel até nem precisa. mas leal, sim. e olha o bico!!!!

Anônimo disse...

Márcia, você já deve ter notado que sou fan de um "pun" (como é que fala isso em Português?? É mais que trocadilho...). Pois então... quando li seu "amores blogosféricos costumam durar só até o próximo post", me veio um "pun" que nem controlei e saiu boca afora, mas não ousei escrever aqui tamanha a canalhisse! Mas agora, lendo seu último comment sei que você é de casa, por isso digo o que calei antes: Amor de Pinta é o que fica! ;) Serei leal.

Beijos,

Anônimo disse...

22 mil libras me emocionam até os limites do sublime. Mesmo Kant concordaria que é arte! Ai, ai, logo eu que já fiz tanto ovo frito seboso nessa vida...

Telejornalismo Fabico disse...

*

já trabalhei em bienal, festival de teatro, salão de artes plásticas, com ator, artista plástico, músico, escritor, bailarino, vixi.
definir arte, hoje, é a coisa mais fluida que existe.
e todo mundo quer se expressar, dizer algo, nem que seja pro próprio umbigo.
e pior: usando o próprio umbigo.


*

Rosamaria disse...

a que chiquita bacana falou das barras de sebo e o que achas de bonecas dentro de uma patente? de uma sala forrada com jornais e UMA rosa vermelha, com um som tocando músicas tão loucas quanto a instalação?

sei não...acho que tens razão, deveriam ensinar nas escolas...

Marcia disse...

Fabiana-Clarice, mas pelo menos estes ovos fritos tinham a gema mole? porque ovo bom é ovo de gema mole. é uma questão de refinamento estético, entende? :P

Suely, lembrei agora de um filme do Woody Allen (qual? não lembro qual, é a esclerose), em que um cara comprava um quadro verde para combinar com o sofá.

Xon, tem coisa mais divertida que ir contigo a uma Bienal? não, não tem.

Rosa, é que vc não entendeu o significado pós-estruturalista da instalação: "aquela" rosa era a famosa que brigou com o cravo embaixo de uma sacada.