28 novembro 2006

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o céu de Van Gogh

uma imagem contém mil palavras. sim. nem todas as palavras do melhor dos dicionários poderiam narrar a força de certas imagens. e uma palavra, o que contém? mil imagens? sim. e então vivemos em busca de um composto de texto e imagem que possa simplesmente significar aquilo que queremos. como se “simplesmente” fosse um advérbio adequado à linguagem.

nem todas as imagens ou todas as palavras, porém, podem expandir aquilo que o silêncio retém. o silêncio é o discurso mais avassalador de todos os que conhecemos, porque traz exatamente aquilo que não conhecemos. o que se esconde por trás de uma grande muralha de silêncio? tédio? dor? desprezo? cansaço da linguagem? se alguém por acaso cansa da minha linguagem, cansa de mim?

“nestes momentos em que falo à toa, é como se eu morresse”, diz Roland Barthes em “Fragmentos de um discurso amoroso”. pois mesmo o mais seguro dos humanos vive sempre no limiar de ser entendido. este desejo banal, o de ser entendido, ainda é a nossa mais profunda vontade.

quando nada parece fazer sentido e nos encontramos em um turbilhão de caos e pânico, a fala de alguém é nossa única ambição. mas a quem dirigir seu caos e pânico, se o que se apresenta é, repentinamente, silêncio? o que resta a quem quer dizer, significar, se não se pode dizer sozinho?

10 comentários:

Anônimo disse...

Pois penso que ao invés da regra a palavra pode também nada comunicar assim como o silêncio pode ser a mais forma clara de expressão. O segredo mora em você e seu interlocutor.

Para mim, o silêncio é a materia negra da comunicação.

Luiz Felipe Botelho disse...

Pinta, quando eu me vejo nesse quadro, onde campeia caos e pânico e só o silêncio ecoa, recorro a um velho teatro interior. Faço como eu fazia quando criança e falo com amigos imaginários. No começo tinha medo de enlouquecer, me vendo falando sozinho. Depois vi que não, pois eu não me fechava, apenas fazia o possível para sobreviver naquelas condições.

É bom constatar que prefiro mil vezes o diálogo a precisar conversar comigo mesmo. Mas se não tiver jeito, se o silêncio vem para me maltratar, sozinho é que não fico. Estarei lá, comigo, segurando a dura onda do caos e do pânico, até que ela passe outra vez.

Beijo

Anônimo disse...

Esse teu silêncio de hoje me deixou muda. Muito doloroso e muito profundo.

Telejornalismo Fabico disse...

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xuxu, é preciso lembrar que as contingências fazem a percepção do momento. não é o todo que está alí, mas a parte.

quando dói, não adianta dizer que vai passar, eu sei, mas quando passa, a dor fica em segundo plano outra vez. e a unicidade volta a comandar, consciente das falhas e acertos que encerra.

é o que nos faz mais fortes e independentes.


*

Maroto disse...

se o silêncio incomoda tanto, faço piu, piu, piiiuuuuu bem alto pra você até você se sentir bem de novo, viu? Lá vai: uma vez, quando eu dava aulas de história da arte (já dei aula de quase tudo nesta vida marvada) um aluno me disse que o Van Gogh tinha um problema na orelha e por isso enxergava as coisas como nesse quadro que você usou para ilustrar as suas colocações sobre o silêncio :)

Maroto disse...

se o silêncio incomoda tanto, faço piu, piu, piiiuuuuu bem alto pra você até você se sentir bem de novo, viu? Lá vai: uma vez, quando eu dava aulas de história da arte (já dei aula de quase tudo nesta vida marvada) um aluno me disse que o Van Gogh tinha um problema na orelha e por isso enxergava as coisas como nesse quadro que você usou para ilustrar as suas colocações sobre o silêncio :)

Zeca La-Rocca disse...

Lembrei de uma pichação q eu li muitas vezes, indo p a faculdade, ao passar em frente ao cemitério de Pelotas, +- assim:
"Qualquer coisa... um grito q seja.
Menos este silêncio de gelo!"
bjosss

Telejornalismo Fabico disse...

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a suely tá com soluço?
:o




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Reges Schwaab disse...

mil vezes obrigado! vou correr sim! vai dar tudo certo!!!
e já vou comprar um caderno prá aula!

Rosamaria disse...

talvez não seja o caso, pinta, mas tem silêncios, assim como olhares, que valem mais que mil palavras...

piu, piu.