05 dezembro 2006

hã?


Gabriel


há certos momentos em que tudo que você consegue dizer, pensar ou sentir é: “hã?”. não existe outro modo de definir estes instantes em que você é atirado sem aviso em um lugar onde não quer estar. quando soube da morte do Gabriel, eu disse: “hã?”. fiz a Josi repetir, enquanto pensava: “hã?”. tentei ligar pro Alex, enquanto sentia: “hã?”.

não acho a palavra certa. nada é suficiente agora. os últimos e-mails estão ali. ele iria se inscrever em um mestrado em Montreal. queria uma carta de recomendação dizendo que era um “bom garoto (hehehe)... o que achas?”. “com prazer”, respondi, “e enchemos de carimbos”.

Gabriel tinha uma risadinha fantástica e um jeito cool de andar. Gabriel era brilhante. era doce, gentil, criativo, independente. vertia humor. tinha centenas de amigos. tinha metas, planos, projetos. era autêntico e cheio de personalidade. escrevia bem, entrevistava bem, pensava bem. tinha 22 anos e ambicionava o mundo.

à tarde, passei três vezes na frente do cemitério onde ele estava sendo velado. não pude descer do carro, não tinha nenhuma estrutura emocional. pensava na monografia que ele defenderia daqui a pouco. pensava na formatura em jornalismo que aconteceria em um mês. pensava no Valério e na Marisa, arrancados de seu único filho. pensava no Träsel, no Bruno, no Alex. pensava em mim, em meu irmão, na fragilidade da vida. pensava nos nós que se desatam quando deveriam resistir, pondo tudo a perder e nos deixando desamparados em nossa impotência, a dizer: “hã?”.

11 comentários:

Telejornalismo Fabico disse...

*


não há o que comentar.
o 'hã' ecoa como única possibilidade de tentar compreender o que não tem lógica.



*

Anônimo disse...

Essas perdas nos deixam sem chão...
Que Deus fortaleça os pais de Gabriel.

Anônimo disse...

"Hã" seria "sim" se a gente se deixasse pensar que somos frágeis, simples e imperfeitos seres humanos e nos detêssemos mais em olhar pro outro todos os dias, como se fosse a última vez... O Gabriel onde ele estiver está sendo amparado por aqueles que ainda não conseguimos ver por força (ainda!) dos nossos olhos vendados ao que existe e ainda relutamos (com razão!) em compreender!

Paz, Amor e Sabedoria pra todos nós, daqui e do outro lado!

Ana disse...

Tão triste...
Tão sem explicação...
E, a cada nova perda, as antigas dóem tudo outra vez!

...

Graziana Fraga dos Santos disse...

Marcia, to até agora sem acreditar... lembro bem dele da FABICO, nao posso acreditar ainda, foi acidente????????????

Anônimo disse...

E vale lembrar que mesmo não conhecendo o Gabriel, ele era um blogueiro de muito talento. Abs

Adriana Amaral disse...

to até agora chocada....

MC disse...

O Gabriel era brilhante. Conhecia ele pouco, mas nas poucas vezes que nos encontramos eu sempre pensava "esse menino é incrível". Fiquei bem chocada quando soube e só conseguia pensar "que merda... pessoas assim deveriam ser eternas". Ele era inteligentíssimo e cheio de idéias legais. Botava as coisas em prática e com certeza teria um futuro brilhante, de muito sucesso. Gabriel se destacava, pela risada, pelo jeito, pela genialidade. Vai fazer falta...

N.C. disse...

"hã?!", mesmo sem conhecer.

Luiz Felipe Botelho disse...

Lamento, Márcia.
Mesmo acreditando em que a vida segue em outros planos, essas experiências doem, a tristeza vem. Mas aí a gente assimila, guarda as lembranças e segue. É o jeito de ser desta "arena quadridimensional", como chama o Marcelo Gleiser, referindo-se a este mundo.
Bjão

Ana disse...

Sabe?
A mãe do Gabriel é a Marisa, de Lavras... Morávamos lá, na mesma época. Só agora caiu a ficha.
Eu era muito amiga da Márcia - irmã da Marisa, que também faleceu num acidente de carro, mais ou menos com esta idade...
Que coisa...