01 dezembro 2006

tipos

uma das minhas teses favoritas de mesa de bar rege que, não importa o grupo, sempre encontramos os mesmos tipos humanos. pode ser a redação de um jornal, uma reunião de trabalho, uma festa de família ou um curso de treinamento. alguns tipos estão sempre lá.

há sempre o tipo egóico e fanfarrão, que gosta muito da própria voz. este precisa pontuar cada questão e fazer longas digressões. um pouco psicopata, este tipo nunca percebe que não está agradando: o que interessa é se ouvir, se ouvir de novo, e mais uma vez. é aquele que causa desânimo geral quando se inscreve para falar. o bom deste tipo é que ele provoca alianças provisórias entre os demais, que se unem em um longo – bem longo – e resignado enfado. para controlar esta criatura, só com um chicote.

temos também o tipo confuso. ele quer se expressar, e morre tentando, mas o fato é que os demais simplesmente não conseguem entender o que ele diz. ao final, fica aquele silêncio constrangedor e alguns se olham, arqueando a sobrancelha, “hã?”. o pior deste tipo é que ele até pode ter algo relevante a dizer, mas obriga os demais a usar uma retroescavadeira para pinçar a essência do seu pensamento. me causa um pouco de compaixão, mas nunca quero me aproximar dele, com medo de me perder nos labirintos, meandros e complexidades que só ele vê. preste atenção. se o sujeito começa dizendo “veja bem”, é porque lá vem o labirinto. não veja. fuja.

há o tipo impaciente. aquele que está sempre com a cabeça em outro lugar, precisa amarrar as pernas antes que levantem vôo e rabisca desenhos patéticos em qualquer cantinho de papel. este tipo perde logo a concentração e olha sonhador para o céu que vive lá fora. é o cara que olha o celular em busca de um torpedo salvador e sorri quando a pauta avança. é alguém com quem não se pode fofocar depois, porque ele diz “hã? fulano disse isso? quando?”. é um tipo desmemoriado que só retém o essencial. o problema é que o essencial dele raramente é o essencial dos outros, o que o torna um eterno deslocado. eu sou deste tipo.

temos ainda os felizes. são pessoas que acham que a vida é bela, os passarinhos cantam e tudo se constrói coletivamente. este tipo tem todo o tempo do mundo e quer ouvir as histórias particulares porque acredita na riqueza das experiências compartilhadas. este tipo, que é sempre um cara legal e pode até ser cheiroso, é aquele que, mal te conhece, quer sair para um chopinho. ele olha atentamente, acena com a cabeça quando o egóico fala e é solidário com o tipo confuso. cuidado com o tipo feliz: ele invariavelmente vai se meter na sua vida. ele te dá tapinhas legais nas costas e te recebe com um sorriso legal às oito da manhã, quando você chega para a reunião confiando no tato e na audição porque, afinal, você ainda não abriu os olhos.

e o tipo inseguro? aquele que não pode ver a pauta avançar, sem retomar algum ponto já exaustivamente debatido? se você diz “hum... acho que já superamos este ponto”, ele te olha com um pouquinho de rancor e você se sente um anão insensível. o inseguro não suporta a objetividade. afinal, ele precisa saber de antemão tudo que vai acontecer nos próximos meses, quando estiver sozinho e talvez tenha que tomar uma decisão.

não esqueçamos o tipo inconveniente. este cara sempre faz uma piadinha fora de hora e se você fizer rá-rá-rá, mesmo que apenas por gentileza, você está roubado: ele nunca mais vai sair do seu pezinho. o inconveniente não respeita a ordem de inscrição, pede apartes para contar uma historinha engraçada e importante que aconteceu “com um amigo” dele, fala de dieta no coffee break e usa frases de efeito velhas em grupos novos.

no entanto, o que mais me enternece é o tipo tímido. ele quer se enturmar, mas resiste a fazer qualquer movimento com medo de ser rejeitado. pode entrar e sair do grupo sem ser notado, e talvez isso seja uma benção para ele. enfrenta o ambiente hostil como uma tortura e às vezes ensaia uma aproximação, mas gostaria de ter um alçapão para sumir quando olham para ele. pena, pois normalmente este tipo é brilhante e, quando é obrigado a falar, você pensa “uau”.

por fim, há o tipo fake. ele tem cara de inteligente, mas é de uma estupidez hedionda. ele parece bonito, mas você o pega com o dedo no ouvido. ele parece interessante, mas abre a boca e demonstra aquele preconceito que te arrepia. ele parece moderno, mas se revela sexista e conservador. é o tipo denorex: parece, mas não é. o bom deste tipo é que, por comparação, ele transforma de novo o bom e velho amor da sua vida em pedra rara e preciosa.

13 comentários:

N.C. disse...

Achei um nome p cada tipo da lista... mas nao é conveniente falar, ne?

Os dentistas classificam as pessoas nao em tipos, mas classes: classe 1, classe 2 e 3. Mas isso conforme a posição da arcada dentária... ao vivo, pelo menos rende boas piadas...

Anônimo disse...

Neném,

Estereótipos (é assim que se escreve em BPT?), etiquetas, sei não... eu, se honesto comigo mesmo, consigo me pegar em todos estes "tipos"... alguns mais, outros menos, alguns enquanto digito aqui, outros que (felizmente) nem me lembro mais quando fui.

Beijo,

Maroto disse...

lá dindindonde eu peleio tem um tipo que é ao mesmo tempo tudo que você diz do egóico, do confuso, do feliz, do inconveniente e do fake. Já pensou? É o próprio esquizo-estereótipo!

Ana disse...

E o tipo à toa??

Graziana Fraga dos Santos disse...

encontrei algumas pessoas pra cada tipo e me encaixei mais ou menos no tipo impaciente...
mas há sempre aqueles tipos que tem um pouco de cada tipo né, talvez Ana, sejam o tipo à toa :)

Telejornalismo Fabico disse...

*


huáhuáhuáhuáhuáhuáhuáhuáhuáhuáhuá

haja saco pra agüentar esses malas em todos os congressos por três dias seguidos.

ainda bem que a ironia não está ao alcance de todos.


*

Marcia disse...

Nanachara, eu também tenho nomes para cada tipo. e outros tipos, que não coloquei aqui por excesso de sono causado por uma overdose de egóicos e confusos.

Little lion, eu mesma me encaixo em quase todos. menos no feliz, pois eu decididamente não acho que felicidade se encontre em cursos e reuniões.

Suely, captei a mensagem.

Ana, o tipo à toa é aquele que não vale nada. seria um mix de vários tipos? vamos escrever uma nova classificação e publicar um livro de auto-ajuda?

Grazi, vc também desenha casinhas, quadradinhos, patinhos, pagtinhos e personagens ridículos em plena reunião?

Xuxu, a ironia é um oásis de inteligência, em um deserto de chatice. digamos que tive muita sede.

Devaneios em Série disse...

como é interessante ler o que escreves...creio ser do tipo impaciente, com breves sonhos de ser feliz...

Anônimo disse...

essa pintinha é do tempo do denorex... meu deus...

Anônimo disse...

Pô Marcia, não tem um(a) cara legal nos teus grupos? Aqueles(as) tipo, vale a pena bater um papo com esta pinta.
Carrion

Mariana Mesquita disse...

Você é um tipo que não tem tipo
Com todo tipo você se parece
E sendo um tipo que assimila tanto tipo
Passou a ser um tipo que ninguém esquece
O tipo zero não tem tipo

Quando você penetra no salão
E se mistura com a multidão
Esse seu tipo é logo observado
E admirado todo mundo fica
E o seu tipo não se classifica
E você passa a ser um tipo desclassificado
O tipo zero não tem tipo, não...

***
Já dizia Noel...

;.)

Beijo

Anônimo disse...

Pinta: qual é o teu tipo?

Graziana Fraga dos Santos disse...

sim, desenho casinhas, sol, nuvens e gaivotas, porque é só o que sei desenhar... em reunióes chatas, aulas que não estão boas, enfim...quando fico impaciente ;)