08 abril 2007

thesis

“escrever é cortar palavras”, diz Carlos Drummond de Andrade. “enxugar até a morte”, complementa João Cabral de Melo Neto. de alunos de jornalismo, espera-se que escrevam sem parar e enxuguem até a morte. espera-se que leiam bula de remédio, placas de padaria e William Faulkner. espera-se que bebam literatura, apenas porque querem escrever, vão escrever, precisam escrever.

mas escrever é difícil. a tela está lá, branquinha. um pouco desdenhosa, um pouco dizendo “você não consegue”. meio debochada, meio blasé. escrever é um risco, ao qual a gente simplesmente se atira. e, convenhamos, jornalistas não têm escolha, precisam se jogar neste abismo todos os dias.

na universidade, os futuros jornalistas escrevem menos do que deveriam, menos do que gostariam e muito, muito menos do que de fato poderiam. por problemas que não cabe avaliar aqui — mas que passam pelo imobilismo de certos professores, que inacreditavelmente esquecem o prazer do jornalismo, e por uma certa apatia coletiva dos estudantes — acabamos vivendo ciclos inteiros de paralisia criativa na universidade. o lugar que deveria ser de experimentação, criação e refinamento de textos jornalísticos acaba sendo o lugar do enfado e da obrigação.

na minha disciplina na UFRGS, de jornalismo opinativo, os alunos produzem um texto por semana, com pausas para análise e edição. ela não é trabalhosa: ela é muito trabalhosa. é preciso identificar o estilo de cada um, respeitá-lo e, dentro dos limites deste estilo, aprimorar o texto argumentativo. além disso, são muitas as modalidades de exercício de análise e opinião. quando o cara aprende uma, precisa se aventurar na seguinte.

agora criei um blog para publicar alguns destes textos. vou alimentá-lo devagarinho e com cuidado. é um laboratório, é experimental e eu estou me divertindo. chama-se thesis e é um modo de mostrar que, sim, a UFRGS é uma universidade pública que forma jornalistas talentosos. piu.

atualização: tinha um acento grave ali ("thèsis"), comprovando que pelo menos o meu latim é uma língua morta. já está certinho agora. mortinho, mas sem acento.

22 comentários:

Clélia Riquino disse...

Muito legal esta sua iniciativa! Visitei o novo blog (thésis), lerei, aos poucos, o que você publicar nele...

tese [Do gr. thésis, 'ato de pôr', 'proposição', pelo lat. these]
S. f.
1. Proposição que se expõe para, em caso de impugnação, ser defendida.
2. Proposição formulada nos estabelecimentos de ensino superior e médio para ser defendida em público.
3. Por extensão Discussão da própria tese.
4. A publicação que contém uma tese.
5. Filos. O primeiro momento do processo dialético.
6. Ver tésis.

Em tese
1. De acordo com o que se supõe; em princípio; em teoria.

-tese
[Do gr. thésis]
El. comp. (elemento de composição)
1. = 'posição', 'colocação': epêntese (< lat.).

[Equivalente: -tes-: homotesia]

tésis [Do gr. thésis, pelo lat. thesis.]
S. f. 2 n.
1. Mús. Entre os gregos, o momento em que os dançarinos punham o pé no chão; designa, portanto, a parte acentuada do ritmo.
2. Mús. Na métrica musical, o tempo forte do compasso.
3. Liter. Na versificação latina, a parte do pé (em geral uma ou mais sílabas breves) não marcada por acento métrico.
4. Por extensão Abaixamento do tom ou da voz.

[Aurélio Buarque de Holanda Ferreira]

Carmencita disse...

Esse acento grave ficou meio metido a francês.

A propósito, seus alunos autorizaram você a publicar os textos que ELES produziram?
Por escrito?

Um grande beijinho!

Marcia disse...

Clélia, thanks. vc é um anjinho. :)

Carmencita, e eu que jurava que em latim era thèsis, assim, com acento grave.
tu vê, errei.
é esta minha cabeça de pinto que só pensa em minhoca, tsc tsc tsc.

e claro que eu não pedi autorização pra eles pra publicar os textos que ELES produziram!!!
nem coloquei os nomes DELES nos textos que ELES produziram!!!
ELES nem sequer sabem que os textos que ELES produziram estão lá naquele blog!!!
fiz tudo escondido, na surdina, na calada da noite, como a gente deve fazer em uma boa universidade pública como a UFRGS!!!!!

Carmencita disse...

Ah, ainda bem!

Pelo jeito ELES se esforçaram bastante. Já pensou se tivessem contado com a ajuda e a orientação de alguém? Como ficaria o merecimento DELES? Como é que ELES iam conseguir nota para passar, assim, sem merecer, sendo guiados feito ceguinhos?

Um grande beijinho!

Clélia Riquino disse...

Também tive curiosidade em saber como seus alunos reagiram diante da possibilidade de seus trabalhos serem divulgados na blogosfera! Se todos toparam/consentiram... Pelo jeito, descobrirão agora, lendo seu blog! Você é, mesmo, uma pinta maluquinha!

Não tive intenção de corrigi-la, mas estranhei o acento grave (afrancesado, como diz a Carmencita!). Daí, o Aurélio esclareceu... Achei, então, por bem, avisá-la (às vezes, sinto-me uma pentelha por causa disso).

bjo,
Clélia

Clélia Riquino disse...

Ah, só agora notei a "atualização" do post. Adorei!

"(...) comprovando que pelo menos o meu latim é uma língua morta. (...)"

Clélia Riquino disse...

Mas você colocou autoria nos textos... (fictícia?)

Rosamaria disse...

que legal, pinta!!! pra eles e pra quem pode ficar conhecendo o trabalho deles.

"mas escrever é difícil. a tela está lá, branquinha"... eu não te disse???

acho que para escrever o importante é ler, ler ler. o que não fiz.

piu, piu.

Marcia disse...

Clélia, não me importo de ser corrigida. ainda mais com jeitinho. :D

quanto aos alunos, minha resposta era uma ironia com a Carmencita.
mas esclarecendo:
os alunos concordaram o blog, e os textos estão assinados pelos autores.
tudo que se faz em uma universidade, como atividade laboratorial, deve ser explicitado como tal (como está lá) e é de responsabilidade do professor.
não existe motivo para polêmica.

Marcia disse...

Rosa, é difícil pra todo mundo. é só ver os relatos dos grandes escritores em busca da frase perfeita. afe.

Clélia Riquino disse...

Que estúpida!!! Caí feito uma pintinha, quer dizer, patinha...

Pior é qu'eu tinha certeza que você tinha conversado com eles, antes, propondo a idéia do blog. Era evidente, lógico. 'Tô meio devagar, hoje...!

Carmencita disse...

Às vezes eu acho ótimo não saber escrever. E nem ler. É por isso que eu gosto de aprender idiomas diferentes (Aprender idiomas iguais não dá, né-â?!).

Desde cedo a gente é ensinada que precisa saber falar, escrever, ler... É todo um processo de aculturação espiritual. Gosto mesmo é de decifrar – uma arqueologia alfabética, até mesmo alfanumérica. É como desvendar um dossiê feito em bordado hieroglífico.

A-DO-RO me sentir analfabeta.

Um grande beijinho!

Carmencita disse...

E depois quem leva a fama de louca sou eu...

Clélia Riquino disse...

Eu já acho i-m-p-r-e-s-c-i-n-d-í-v-e-l ler!!! E adoro escrever...

Telejornalismo Fabico disse...

*




mas é claro que a fabico forma grandes jornalistas.
que colocação mais esdrúxula.





*

Marcia disse...

Carmencita, mi reina, donde tiraste esta tontería?

Clélia, eu também acho. inclsuive em braile, se é que vc me entende. :P

Xuxu, esdrúxula é uma palavrinha tão fofinha. tão cataplof. :D

Carmencita disse...

¿Qué tontería, Chicka mía?

Yo nunca digo tonterías.

Marcia disse...

esta: "quem leva a fama de louca soy yo".

Vivien Morgato : disse...

Vou lá ver. Blog dá mesmo uma fissura pra escrever. Meu filho fez um e sempre me deparo com rascunhos dos textos dele ( que nunca escrevia nada) pela casa toda. Adoro isso.;0)

Carmencita disse...

"quem leva a fama de louca soy yo"

E essa é apenas uma das mais levinhas pechas que levei, para você ver!

Thelma disse...

Que ótimo, Pinta! Vou lá olhar. Bjs.

isa disse...

oi marcia! cheguei aqui atraves dos blogs da ana e thelma, e gostei muito do que escreves. adorei tua ideia do novo blog com os textos dos alunos! hoje vim de uma reunião com os orientandos de iniciação cientifica, e o problema da produção de texto é o mesmo... beijos!