algumas saudades moram dentro da gente de um jeito que nem se pode nomear. não falo daquelas lembranças de viagens que você fez, ou pessoas benditas com quem conviveu, ou momentos especiais que restam na memória. estas lembranças vêm e vão, de acordo com os humores e as fases da vida, embora ajudem a nos construir.
falo daquelas saudades que parecem não ocupar espaço, que atravessam o tempo, que estão incrustadas na nossa história. uma pessoa, assim, que você não pode separar de sua própria vida porque você é um pouco o que ela é, ou ela é você. a sua história se misturou com a dela, ainda que vocês sejam, por genoma ou por destino, tão diferentes.
quando eu tinha seis anos, eu conheci uma menina. ela também tinha seis. não nos separamos até os 24, quando eu fui morar longe. levava na mala a ausência de muita gente. mas uma das saudades que mais pesavam era a dela. não sabia bem como poderia ser alguém sem o meu espelho, aquela a quem podia dizer tudo, qualquer coisa, no momento zero. foi uma espécie de tragédia pessoal, uma ruptura doída que chamam maturidade, um voltar aos seis anos.
durante todo aquele tempo, ela tinha sido a minha memória. sabia tudo de mim. de quem eu gostava, do que eu tinha medo. as boas e as más histórias. os micos, as mentiras, as obviedades. eu ouvi tudo, ajudei em tudo, fomos muito mais do que irmãs. mas nunca duas puderam ser tão diferentes, no jeito de se vestir, na hora de dormir, na maneira de estudar. e nunca puderam ser tão iguais, no jeito de ver a vida, de escolher os amigos, de saber o que importava.
amigos assim a vida nos dá aos bocadinhos. às vezes, apenas um. às vezes, nem dá. e a vida é um pouco cruel quando separa amigos deste jeito. por isso, minha sensação inominável de ter novamente seis anos, ou dez, ou de não ter tempo algum, quando nos encontramos, de tempos em tempos — raros tempos. porque existe uma saudade permanente residindo em mim, que não é de uma cena, de um lugar ou de um abraço, mas é de absolutamente tudo que está inscrito neste tempo todo. uma das poucas certezas que eu tenho, Titi, é que nós somos muito mais do que irmãs.
falo daquelas saudades que parecem não ocupar espaço, que atravessam o tempo, que estão incrustadas na nossa história. uma pessoa, assim, que você não pode separar de sua própria vida porque você é um pouco o que ela é, ou ela é você. a sua história se misturou com a dela, ainda que vocês sejam, por genoma ou por destino, tão diferentes.
quando eu tinha seis anos, eu conheci uma menina. ela também tinha seis. não nos separamos até os 24, quando eu fui morar longe. levava na mala a ausência de muita gente. mas uma das saudades que mais pesavam era a dela. não sabia bem como poderia ser alguém sem o meu espelho, aquela a quem podia dizer tudo, qualquer coisa, no momento zero. foi uma espécie de tragédia pessoal, uma ruptura doída que chamam maturidade, um voltar aos seis anos.
durante todo aquele tempo, ela tinha sido a minha memória. sabia tudo de mim. de quem eu gostava, do que eu tinha medo. as boas e as más histórias. os micos, as mentiras, as obviedades. eu ouvi tudo, ajudei em tudo, fomos muito mais do que irmãs. mas nunca duas puderam ser tão diferentes, no jeito de se vestir, na hora de dormir, na maneira de estudar. e nunca puderam ser tão iguais, no jeito de ver a vida, de escolher os amigos, de saber o que importava.
amigos assim a vida nos dá aos bocadinhos. às vezes, apenas um. às vezes, nem dá. e a vida é um pouco cruel quando separa amigos deste jeito. por isso, minha sensação inominável de ter novamente seis anos, ou dez, ou de não ter tempo algum, quando nos encontramos, de tempos em tempos — raros tempos. porque existe uma saudade permanente residindo em mim, que não é de uma cena, de um lugar ou de um abraço, mas é de absolutamente tudo que está inscrito neste tempo todo. uma das poucas certezas que eu tenho, Titi, é que nós somos muito mais do que irmãs.
14 comentários:
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e o melhor que, além de divertidíssima, ela solta de quando em vez um segredo daqueles que compõe o mapa das idiossincrasias.
a Titi precisa beber mais.
:P
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concordo com cada ponto vírgula acento... amigos mesmo são poucos. e estes sempre ficam guardados com aquela pitada de saudades interminável.
e esta obra de Renoir (Rosa e Azul - As meninas Cahen d´Anvers) me trazem tb à tona recordações de amigas... mas principalmente da minha irmã querida. até pq éramos bem assim: a maior loirinha, a menor morena clara...hehehe. ahhhh... como é bom às vezes lembrar da nossa infância, não é?
que bonito uma amizade assim, pinta! difícil também.
Renoir é o meu preferido!
amizades assim são bem dificeis de acontecer, mas são uma bênção quando existem :)
É...
idem,idem,idem... te ADOROOOOOO! MUITO!!!!!!!!!!!!!!!!beijos titi
E esses reencontros, mesmo quando espaçados por períodos longuíssimos, sempre provam que os períodos não foram nada. Dá aquela sensação de que nunca nos separamos. Porque, na verdade, nunca nos separamos mesmo.
Amigos não separam-se, estaõ aquém do tempo e espaço. mas só os verdadeiros)
lá no céu, no infinito, tem uma cordinha, um fiozinho de luz iluminado e unido a vocês duas. Também tenho uma amiga assim.
É tão bom!
Num mundo cada vez mais egoísta, ler um post assim renova as esperanças na amizade...Tenho poucos e bons amigos (como isso é clichê) e prefiro que continue assim...
Felicidades para vcs duas
ANdo tão a flor da pele...
e um texto desse que nos situa e nos tira o chão...
aiaiai
beijos
tita
Pinta, adorei o post e deixo aqui um pedacinho de um relato de Fernando Pessoa, escrevendo sobre os amigos.
"Um dia a maioria de nós irá se separar.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos q compartilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia,
das vésperas de finais de semana, de finais de ano,
enfim... do companheirismo vivido."
Beijinhos carinhosos do outro lado do oceano
um dos meus maiores medos é sentir saudade. trauma de infância.
eu acho incrível uma amizade assim, de pequenininhas. embora tenha uma amiga desde os 4 anos e meio, não somos tão próximas.
amigos são os irmãos que a gente escolhe, né?! ;)
Ih, Márcia. Bateu no bantu da tia! Foi só ler pra lembrar dos tempos de ginásio (ok, ok, sem piadas! de espécie alguma!), quando eu fazia um trio com a Neide e a Maria Alice, duas fervedeiras de sala de aula que ainda me convenciam a escrever composição (não existia o nome redação, ainda) para elas. A Neide, encontrei num supermercado, há uns dez anos, sem aquele ar de deboche que era sua marca. A Maria Alice, soube que foi morar na praia, hippie tardia. Que saudades delas! Mas já tô contando história demais. Tudo por tua culpa.
bj
maris (piando baixinho)
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