03 junho 2007

o tempo de ser poste

um dia, a vida te aplica uma rasteira. dói um pouco. não, não. dói bastante. você não sabe direito como lidar com o que se apresenta, porque nem de longe esperava por aquilo. é assim que sentimentos terminam. é assim que projetos que pareciam tão concretos desmoronam.

a gente passa por maus momentos, e então vai intercalando uns dias bons, até as coisas lentamente se colocarem em seus lugares. não nos lugares originais, pois os lugares de antes já não servem mais. a vida avança. é uma espiral, que sempre anda para a frente e nunca retorna exatamente ao mesmo ponto. como diz meu filósofo preferido, o José Simão, “quem fica parado é poste”.

bem, mas certas coisas exigem um tempo de ficar parado. ou um tempo de ser poste. este tempo não é de ninguém, é apenas seu. pode ser uma semana. pode ser um mês. e pode ser seis anos. olhando assim, parece tempo demais. pesando sua vida toda ou avaliando as ranhuras das feridas, não é.

o fato é que em algum momento alguma coisa, dentro de você, mudou. não há como saber onde, em que ponto da espiral, isso aconteceu. ou quantas voltas foi preciso que ela desse para que finalmente você percebesse que algo estava realmente superado e você poderia retomar uma parte importante de sua vida. você começa a sonhar coisas diferentes e a lembrar destes sonhos. você dorme mais e perde a hora. ou perde completamente o sono apenas para ver a lua. você come coisas diferentes, come mais ou come menos. ou um dia você não come. você ouve outras coisas, lê outras coisas, anda por outros lugares. você começa a observar novos movimentos interiores. você está mais flexível, mais doce e mais conectado a quem interessa.

o que estava adormecido começa a acordar. é bom e é ruim, mas isso é o que menos importa. os riscos de estar vivo são os melhores riscos, e então ser bobo, ser tolo, ser ridículo, ser cafona e ser autêntico voltam a fazer parte da sua força. os dias de ser poste chegaram ao fim? sim.

19 comentários:

TARCIO OLIVEIRA disse...

Olhaí, Dona Pinta também faz poesia de primeira!
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Vi a petição para escrever sobre o que estou lendo. Respondi lá no post. Eu sou um matuto muito atrasado!
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:-) beijo sertanejo.

Telejornalismo Fabico disse...

*




e o que tu fez com as casinhas de joão-de-barro?




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Ana disse...

É bem assim...
Ah, Pinta! Tu sabe tudo!

Lu disse...

sábias palavras.... tô precisada de ser poste, nem que seja por um dia!!!

Unknown disse...

é o que o meu horóscopo anda dizendo. com tuas palavras: seja poste até o fim do mes.

Marcia disse...

Tarcio, antes tarde do que mais tarde. ;)

Xon, uma casinha em especial eu levo sempre comigo, não importa o plano de vôo.

BacAna, eu não sei nada, mas dou uma enganadinha.

Lu, fica poste um dia. é bom.

Rosinha, manda o horóscopo procurar outro poste. :P

katine walmrath disse...

Que bonito! E que tempo rico se anuncia. Beijos.

Maroto disse...

eu te conheço faz um tempinho e nunca te vi ser poste. Ou será que o que os mortais comuns chamam de atividade é o que chamas de postagem?

Anônimo disse...

que bom!

Anônimo disse...

Sempre torço pra minha lâmpada não queimar em épocas de ser poste. Até que alguém venha trocar já se passou uma estação inteira...

Se tivesse carinhas aqui eu ia colocar uma bem simpática, mas com ar inteligente.

ninguém disse...

Márcia. Ó, pra ti, uma letra do tempo em que tu nem eras sequer projeto de gente. E tem mais: eu lembro a música, que mamãe me ensinou (hehe). Detalhe: a música é dois anos MAIS NOVA que yo.

Eu Quero Rebolar (marcha de
Otolindo Lopes / Arnô Provenzano,
Gravada em 1954, por Risadinha)

Bate o bumbo,
Bate o bumbo,
Deixa o bumbo rebentar,
Eu quero é me rebolar,
Deixa o circo pegar fogo,
Deixa o feijão aumentar,
Eu quero é me rebolar.
O pagode está redondo,
É aqui que eu vou sambar,
Quem fica parado é poste,
Eu quero é me rebolar...

Adriana disse...

Pinta, lendo seu texto cheguei a conclusao que nos meus 43 anos de vida muitas vezes fui poste sem saber...e hoje qdo olho para tras creio que valeu a pena ser postes algumas vezes.
Muito legal o texto.
beijinhos carinhosos do outro lado do oceano

Paula disse...

Passo por aqui seguido, gosto bastante dos textos, mas não costumo comentar nada. Agora esse, não tem como passar batido. Sabe aquela sensação de 'isso, é exatamente assim que me sinto' - fora a parte de deixar de ser poste, ainda estou na fase punk do aspiral. Bom ver/ler que não são a única a tapar buracos devagar pra seguir depois. =)

Graziana Fraga dos Santos disse...

estes dias escutei uma musica e pensei, essa musica tem tudo a ver com meu dia, agora venho aqui e leio este texto e penso, nossa era tudo o que eu gostaria de escrever, como me sinto.
adorei ;)
bjinhos

Léli disse...

Oi!!! Eu sou a Léli, lá do blog da Penkala, eu costumo visitar os blogs que ela indica, mas... até hoje nunca tinha passado por aqui, mas... isto antes, por que agora será mais um dos meus pontos de passagem obrigatórias. Adorei o texto!!!
Beijão Ah! Vou linkar teu blog lá no meu tá?

LU K. disse...

tô precisando tb ser poste por um dia!
lindas palavras....

Eu não sei, você sabe? disse...

Essa Pinta pia bem demais!


uma delícia ler suas coisitas!


beijos, preciso me deter por aqui lendo os antigamentes da pinta, sei que vai ser muito bom...mas ando numa fase que de poste não tem nada :~

besito

Anônimo disse...

Pinta, tô me sentindo um poste!
bjo

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Tem hora de andar pra frente, tem hora de ser poste e tem até hora de andar pra trás. E andar pra trás pode ser bem prazeroso, pois como você mesma notou, quando andamos pra trás nunca caímos no lugar em que estávamos. E então, é o mesmo que andar pra frente.

Ser poste, entretanto, pode ser o mais enriquecedor. Sem a preocupação do movimento, a gente pode observar. Observar e aprender.