leio na Folha Online que o governo do Paraná lançou dois concursos para a Polícia Civil e a Polícia Técnica, e que os editais exigem que os candidatos provem que não possuem o vírus HIV nem o vírus da hepatite C. segundo a Secretaria de Segurança Pública, os editais serão corrigidos e publicados novamente. mas isso não vem ao caso, especificamente. o que vem ao caso é que alguém redigiu as normas, outro alguém as revisou, elas foram aprovadas em alguma instância superior, e por fim uma autoridade — em tese, uma autoridade preparada para exercer o cargo — as assinou.
o que temos aqui, e é o que me interessa falar, é uma cultura a respeito da Aids — e também a respeito de outras doenças, menos polêmicas, mas sobre as quais ainda repousa grande nível de desconhecimento. o Brasil é um país sabidamente atrasado em uma série de questões, mas é preciso reconhecer que evoluímos muito, nos últimos anos, em termos de tratamento, acesso a medicamentos e circulação de informação. se ainda temos tantos portadores do vírus HIV, isso se deve muito mais a uma mentalidade hipócrita que insiste em fechar os olhos para a existência real de drogadependentes, para a infidelidade nas relações e para uma série de outros riscos para os quais já deveríamos ter nos acostumado.
no entanto, em que pesem os avanços científicos que podem garantir qualidade de vida aos portadores do vírus HIV, o estigma ainda persiste como o grande problema com o qual estas pessoas precisam lidar. isto não é apenas injusto para com elas. é também um sintoma do tipo de sociedade em que estamos vivendo: um mundo de aparências, em que o indivíduo mal tem tempo de mostrar os seus talentos reais, pois é rapidamente julgado por uma ou outra pequena faceta que possa aparecer.
tenho um grande amigo que tem hepatite C. é uma das mentes mais brilhantes que conheço, e fico pensando o que poderíamos perder se por acaso ele fosse julgado por carregar um vírus como este, se ele não pudesse ser o professor e pesquisador que é, apenas por ter esta doença. seria a vitória da ignorância sobre a inteligência, algo que me parece intolerável, e que vejo acontecer todos os dias, nos mais diversos lugares, perpassando as mais variadas falas e práticas. a ignorância por aí, espalhada por todos os cantos.
10 comentários:
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Marcia obrigado pelo abraço e colinho, vai passae...vou sacudir a poeira e dar a volta por cima...mais uma vez.
beijinhos carinhosos cheios de energia positiva do outro lado od oceano
Ignorância em estado puro meeeesmo.
Vou participar do meme musical. Logo, logo, postarei.
assino em baixo, concordo com cada linha ;)
hepatite C, HIV, baixa acuidade visual, problemas de coordenação motora, sequelas de AVC, obesidade, anorexia, depressão, acne - não importa o que esteja fora de um padrão no qual só se encaixam as pessoas que são feitas de plástico, o cara sofre. Como tem sempre um critério no qual cada vivente também não está adequado ao tal padrão de saúde física e mental, resta ser rápido no gatilho e colocar o dedo no nariz alheio antes que coloquem no seu.
Ah, e não venham me acusar de dizer isso porque os urubus são feios - mais feio é quem me diz, viu?
Minha querida Marcinha.
O "probrema" é que quem redigiu, redigiu da cabeça dele, estudar prá que? Quem tinha que revisar não revisou, ou revisou pensando em sei lá o que. E a otoridade final não tem tempo(diz que) para ficar cuidando de minúcias (???) e confiou em quem não deveria confiar. Como vocês todos estão cansados de saber, autoridades e políticos, e mães também, por que não?, nunca erram.
O mais impressionante é que os editais claramente não passaram só por uma pessoa até serem publicados. Ninguém questionou nada. Ou essas revisões de nada valem porque nada é, de fato, revisado, ou é ignorância gereralizada mesmo.
Marcia,
Até uns anos atrás, alguns concursos da esfera federal exigiam o anti hiv na fase do exame médico, mas houve muitas reclamações e, pelo que eu saiba, não é mais feito. O problema, como qualquer doença crônica, incluindo hepatite, problemas do coração, e outras é se a pessoa não tem realmente condições de trabalhar, pois está em uma fase aguda da doença. Mas é sempre complicado analisar isso, mesmo que a falta de condições seja clara. Eu não gostaria de ter que fazer esse trabalho.
Gente é bicho muito ignorante.
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Cada vez mais, admiro as Pintas.
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:)
Concordo em gênero e número com o comentário do Maroto e gostaria muito de saber quais os tipos que elaboraram, revisaram, aprovaram e assinaram um edital deste tipo (só rindo!). bjs.
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