17 julho 2007

informação, informação

é difícil acompanhar um acidente como o da TAM, em Congonhas. difícil porque somos humanos e uma tragédia assim nos abala, nos diz respeito. difícil porque, enquanto não sai a lista de passageiros, sempre existe a possibilidade de que um amigo esteja lá. e difícil porque as informações, em uma cobertura complexa assim, são confusas e sempre insuficientes.

estou aqui, desde o início da noite, ligada na Globonews e nos principais portais de jornalismo – UOL, Terra e Globo – em busca de informação. sei que a informação vai pingando, e vai pingando desencontrada, pois é como se estabelece uma narração em tempo real. o texto que vai sair no jornal de amanhã, embora não atualizado, certamente terá uma coerência que não encontramos na cobertura online, onde é preciso se desfazer da notícia de dez minutos atrás, pois os dados mudam, o tempo avança, o real narrado já é outro. confesso que, entre a coerência desatualizada e a cobertura confusa, fico com a última.

percebo que os três portais chamam, na capa e com destaque, para a participação do leitor que tiver imagens para postar ou testemunhos a oferecer. grande avanço para o jornalismo, que se serve da colaboração do leitor como dado complementar a uma narrativa ainda em curso.

percebo também que o Terra dá um título absurdo para o presidente: “Lula teria ficado consternado ao saber de acidente”. por que “teria”? só porque o repórter não estava lá, para ver a expressão do presidente? não, editor. Lula certamente não ficou consternado. você ficou, pois é humano. mas ele não ficou, pois é um insensível sem coração. ele certamente está tranqüilex, enquanto você, que é humano, está preocupado com a situação. Lula cancelou a agenda desta quarta e declarou luto oficial no país por três dias. mas foi tudo protocolar, viu? na verdade ele queria um feriadinho pra não fazer nada. francamente. jornalismo patético de quem não tem o que dizer. não sabe como dizer. e não se importa de dizer o que lhe vem à cabeça. e claro que agora não vai faltar gente dizendo que a culpa é “do Lula”. deve ser bom ter alguém de costas tão largas para culpar imediatamente.

vi no UOL News o vídeo de uma entrevista com um especialista em acidentes aéreos, o coronel Gustavo Franco Ferreira, avaliando as possíveis causas do acidente. muito elucidativa, aliás. mas fiquei constrangida com a falta de preparo do repórter, não só por sua entonação de voz e expressão facial blasé para tratar de assunto tão grave, mas especialmente por sua falta de informação. ou seja: não adianta ter as ferramentas para fazer jornalismo online, se quem está lá não tem preparo para fazer as perguntas certas e dar as informações corretas. o entrevistador quis relembrar o acidente de 1996, com o Fokker 100 da TAM. errou tudo. ainda bem que foi corrigido no ar pela fonte. ah, é. esqueci que este acidente foi no século passado. desculpa aeee.

enquanto eu destilo meu veneno sobre os erros da cobertura, continuo atrás de informação, como uma arqueóloga do presente. e espero a lista de passageiros. e espero que proíbam, de uma vez por todas, os aviões de grande porte em Congonhas, ou que fechem aquela pocilga de uma vez. e espero que apurem as causas e que alguém seja responsabilizado, mesmo que nada disso valha um fio de cabelo de quem morreu. e espero que empresas com tal credibilidade contratem jornalistas experientes e capacitados.

é pedir muito?

21 comentários:

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Márcia,

Me chamou a atenção, também, a cobertura (ou não cobertura) da TV Globo. Fiquei sabendo do acidente por acaso, através da Internet, já que pouco vejo a TV. Aí, imediatamente liguei o aparelho e todas as emissoras de sinal aberto estavam dando (ou tentando) dar detalhes e informações sobre o caso. O que estava passando na Globo? Casseta & Planeta.

Hoje, no jornal da manhã, todos os reporteres e apresentadores da emissora estão de luto. Até mesmo o logotipo da empresa nos uniformes, normalmente colorido, era em preto e branco. Até nisso eles pensam, mas não pensam em dar uma informação de qualidade.

É a ditadura da forma em detrimento do conteúdo!

Telejornalismo Fabico disse...

*




dois pontos: as TVs tavam fechando so principais jornais da noite, e acabaram mandando repórteres menos experientes pra uma cobertura que se pensou, no primeiro momento, que fosse apenas de um acidente espetacular, ou seja, boas imagens e a cobrança por soluções na pista.
quando se soube que era tragédia, e tragédia estpúpida, foi uma correria atrás do prejuízo.

só vi o uol. e fiquei incomodado com a forma como eles pediram a participação do público. me soou oportunista, meio desumano, frio, como se interessasse apenar ter relatos e imagens escabrosas inéditos. querer fazer negócios num moento de dor.

quanto à assessoria da TAM, de nada adianta ter uma quando não respeita o trabalho que ela faz. deixar as pessoas por horas e horas a fio sem notícias é desumano. é a frieza dos negócios frente a dor de quem confiou a vida a uma empresa preocupada só com lucros.



*

MC disse...

eu tô bem chocada com isso. minha sogra pega esse vôo uma 3x por mês. por sorte ela não estava nesse. a situação dos aeroportos tá muuuito crítica e os problemas são vários e difíceis de resolver a curto prazo, como o Lula quer, pedindo data e hora pra esse caos acabar. a culpa não é só do governo, mas também das empresas aéreas e a coisa precisa ser repensada logo, pois isso aí estava pra acontecer a qualquer momento. nunca tive medo de voar, mas sempre me apavorei de pousar naquele aeroporto medonho de congonhas. aquilo é um absurdo. tenho pena de quem mora perto daquilo. já vi muita gente dizendo que não voa mais de Tam. nesse caso, não fico com receio de voar de Tam, mas de voar em qualquer teco-teco que pouse naquele aeroporto. podia ter sido com qualquer outro avião, com qualquer outra empresa. eu tô chocada, repito. essa situação tá muito, muito complicada. não gosto nem de lembrar das cenas das pessoas nos aeroportos querendo saber de parentes e amigos e não receberem nenhum informação. o descaso acontece não só no atendimento, nos vôos, nos overbooks, mas também em situações onde empresas aéreas, governo e jornalistas deveriam ser um pouco mais atenciosos e solidários. se eu fosse a Marta Suplicy nunca mais saía de casa de vergonha. queri ver se o filhinho dela estivesse num acidente desses se ela ia relaxar e gozar.

Adriana Amaral disse...

pois é.. tb estou chocada aqui com as notícias e com a forma que a cobertura está sendo feita! e descobri hoje que tinha uma conhecida no vôo, a Valdemarina da PUCRS.. fiquei muito chateada... é inadmissível oq está ocorrendo.. eu mesma já peguei aquele vôo...

Maroto disse...

MC, é um absurdo aquele aeroporto entupido, encravado na malha urbana, mas quando Congonhas foi criado aquela região era bem vazia. O aeroporto trouxe a infra, empregos e, na época, até um certo status. A cidade fagocitou o aeroporto. Nos anos 80, quando construíram Cumbica, eu estudei o projeto. A região era vazia e a Lei de Uso do Solo ia prevenir áreas residenciais por lá. Agora já tem casa atrapalhando a pista.
Em resumo, como uma vez já disse o Caetano, somos uns boçais.

Maroto disse...

ah, sim, acidente aéreo me vira o estômago. Afinal, eu sou um urubu.

Reges Schwaab disse...

é uma vergonha nacional. a aviação e o jornalismo.

Reges Schwaab disse...

esse jornalismo, claro.

Rosamaria disse...

tá tudo errado, pinta! será que tem conserto? quem vai consertar? vai ser muito difícil e não será de uma hora para a outra.
se pelo menos dessem mais atenção às pessoas.

Congonhas tá desse jeito. E Cumbica,que quer dizer cerração baixa seguido cancela os vôos por este motivo. que pelo menos lá dê tudo certo.

Ana disse...

Outras manchetes nojentas estao falando de possivel falha humana quando nem um robô pode fazer milagre num dia de chuva naquela pista e outros dizendo que dessa vez farao "investigaçao séria" sobre o acidente, como querendo dizer que todas as outras investigaçoes nao foram sérias.

ninguém disse...

Márcia. Cobertura vergonhosa. De todos. Não escapou um. Dando o desconto da humanidade de todos (quem pode afirmar que eu ou tu, por lá, fizéssemos melho), como sempre a Globo deu show de falta de preparo para coisas fora de roteiro. Nem a Globonews escapou. Os portais foram rasteiros. Fui passeando pelos Terra de outros países. Os latinos trataram logo de entrar na rede. Na Espanha, nada. Aí, penso: existe trabalho em rede desses caras? Se a Internet é o veículo por excelência para unir o mundo, mesmo que ainda para poucos (que podem repercutir para muitos), porque é tão mal usada jornalisticamente?
E vou te contar: vi primeiro no Terra, com a chamada avião bate em depósito da Tam. Na hora, não atinei a extensão. Eu que sou pateta? Ou a chamada foi besta mesmo?
Também vou dar pau na Record, que entrou aqui para colocar o RS no mapa brasileiro em termos de jornalismo (não é esse o mote deles) e levou um tempão para acionar São Paulo direto.
Dava raiva ficar zapeando atrás de informação. Voltei ao computador pr, mal ou bem, tinha mais o que ler.
Quanto as colaborações, já fiz um post a respeito: vergonhoso isso, de, em vez de aparelhar suas equipes, ficar usando fotos, textos e vídeos de quem quer "colaborar". E o mercado cada vez pior.
Desculpa, piei demais
maristela

Anônimo disse...

Marcia, fiquei ouvindo pela CBN, lendo no G1, na Folha e no Terra. O G1 tinha até um blog sobre o assunto. Achei a cobertura da Globo, a televisiva, muito esquisita. Primeiro que no primeiro plantão eles só disseram que um avião havia batido, mas não disseram se haviam pessoas dentro. Só terrorismo, mesmo. Congonhas é um lugar assustador. Quando vc vê, vc começa aterrissar no meio de prédios. Eu, meio inexperiente na primeira vez ue fui, me senti muito insegura. Cumbica é melhor. Acho que tá na hora de fazerem um novo aeroporto, né? Acho que aquelas pessoas que moram ali em volta não merecem passar por essas aflições constantes. E nem os passageiros correrem tantos riscos. Abs

Anônimo disse...

Acompanhei a noite toda pela Band News, desde minutos após o acidente. Boa cobertura, informações sem parar, várias câmeras no local, estrevistas, 2 repórteres desde o início, helicóptero, apresentadores competentes.

A repórter Eleonora Pascoal, da Band, lá no meio, toda apavorada gritando que o pédio ia desabar...

A Globo foi um fiasco de demora. A Band e a Record passando há horas e a Globo dando a novela das sete!

Já quanto aos portais pedindo a perticipação do público, eu geralmente não acho legal. As pessoas - que não cobram nada - abastecem os sites de fotos e de textos... Me parece desculpa para não pagar fotógrafo e jornalistas.

Gisele H. disse...

Comecei escutando pela Rádio BandNews, achei a cobertura muito boa.
Entrei em diversos portais e fiquei pasma com o ClickRBS que deixou a manchete "Pelo menos 3 morrem em acidente em Guarulhos" durante diversos minutos. Jurei que havia ocorrido outro acidente!

LU K. disse...

Oi, Márcia!
Estive hoje no local... desde ontem acompanho as notícias. Dormi três horas e às 4h já estava de pé. Trabalhei 15h... de literalmente dor as pernas. Algo inacreditável!
Se quiser ler meu relato, tá lá no meu blog.
beijos

Chawca disse...

Cheguei em casa com um casal de amigos que convidei para comer um Cupim assado que estava preparando e me deparei com minha mãe grudada na Tv vendo a transmissão ao vivo do acidente...
No muda muda de canal, dados desencontrados e muitas informação inútil e alarmista..
Mas o pior foi ver no dia seguinte celebridades lado Z se aproveitando disso pra aparecer,,deprimente...
Um beijo

Ferdibrand disse...

Márcia,

Sou freqüentador do blog do Sean e segui o link deixado no comentário que ele fez sobre o acidente.

Também escrevi a respeito, e concordo que, nessas horas, as impressões variam muito, pingadas que são, como disseste, as informações em tempo real. Hoje eu escreveria um texto bem diferente do que escrevi na noite do acidente (http://ferdibrandblog.blogspot.com/2007/07/outro.html).

Terça-feira, acompanhei os fatos apenas pela TV, e é natural a confusão. Não que eu ache maravilhoso o casal-âncora da Globo, mas era perceptível que a Fátima Bernardes estava ali noticiando os ouros do Pan apenas por obrigação. A comoção era visível.

Isso não justifica, entretanto, a falta de preparo e sensibilidade de uma equipe de reportagem. Talvez, em números, o acidente do vôo da TAM diga pouco comparado às mortes diárias em ruas, estradas e favelas. Mas é sozinho tão brutal e comovente que merece o máximo de profissionalismo e responsabilidade.

Não, Márcia, não estás pedindo muito.

(Em tempo: um ponto de interrogação no título do Terra talvez fosse mais adequado.)

Abraços,

Renato Wolff

Anônimo disse...

A cobertura levada ao ar hoje, que já deveria conter elementos de informação bem mais elaborados, transformou-se em um ritual insuportável. Toda o horror que foi o acidente terminou enquadrado em uma espécie de espetáculo trágico, para não dizer mórbido. Nem mesmo o Caco Barcelos, com seu Profissão Repórter, escapou desta armadilha.

Anônimo disse...

A cobertura levada ao ar hoje, que já deveria conter elementos de informação bem mais elaborados, transformou-se em um ritual insuportável. Toda o horror que foi o acidente terminou enquadrado em uma espécie de espetáculo trágico, para não dizer mórbido. Nem mesmo o Caco Barcelos, com seu Profissão Repórter, escapou desta armadilha.

Penkala disse...

embora atrasadíssima, venho comentar agora também por estar tentando, a semana toda, ignorar o jornalismo todo sobre o acidente. cada vez que acontece uma coisa tão triste dessas eu fico com nojo do jornalismo. primeiro, por uma máquina jornalística que parece ser lubrificada com sangue e que não tem o menor preparo pra mediar tais assuntos com/para "o povo". segundo por fazer o favor de transformar a tragédia em tudo, menos no que ela de fato foi. terceiro por essas gotas, aqui e lá, de jornalismo incompetente, de gente despreparada, de repórteres tristemente sem noção, que poderiam ter sido ótimos dentistas ou bioquímicos, mas que acharam que tinham vocação pra jornalistas. enfim... e as pessoas continuam de olho no kit-tragédia que a globo (por exemplo) prepara no domingo, pra encerrar uma semana pesada de forma fantástica.

que nojo.

sueli halfen ( POA) disse...

Gente assim que não respeita o seu juramento profissional,dificilmente honraria o de Dentista ou de Farmacêutico-Bioquímico( no qual me incluo) ou nenhum outro.Se fosse Dentista tiraria o dente errado e cobraria,se fosse Farmacêutico-Bioquímico iria dar o resultado pretendido pelo dono do laboratório... e cobraria pelo teste não feito.Isso quase me aconteceu e me demiti!
Gente assim,não serve prá nada.
A crise tb é moral,gente que se vende por importados carésimos "de classe" achando que coisinhas assim lhe darão CLASSE.

abraço sueli