sonhos

os sonhos são portas para o que está abaixo, além, atrás. fico exausta, tentando interpretá-los. há épocas em que não lembro de sonho algum e isso me deixa chateada, como se não houvesse nada de importante a ser dito pelo inconsciente. mas há épocas em que os sonhos vêm como enxurradas, todas as manhãs, e pelo menos um fragmento fica lá, martelando minha mente durante horas – o que significa aquilo, o que eu quero me dizer?

quando lembro que os sonhos são metafóricos, quase desisto de meu inconsciente, tenho raiva dele, chuto minha mente perturbada e clamo por um mínimo de literalidade. existe algo errado em simplesmente querer entender o que corre no roteiro estranho de um sonho? por que estou lá, sentindo aquelas coisas, com aquelas pessoas – e, principalmente, por que sinto tanta falta de outras, que chega a doer tão sinceramente?

em uma época muito recente, sonhava com água em movimento e serpentes. agora, sonho com caminhos e estradas de chão. caminhos sem fim, cujo traçado não é escolhido por mim, sou guiada por outras pessoas sem dizer não, não estou no comando, não levo roupas, não levo comida nem água, não levo pessoas, não levo nada, só levo vontade de levar alguém – alguém que não levo.