21 março 2008

dr. House again

às vezes eu me perco – no ótimo roteiro, na força dos personagens e na inteligência dos diálogos – e esqueço o que é que faz de House meu seriado preferido, desde Arquivo X. é House mesmo, o personagem, assim como em Arquivo X eram Mulder e Scully. são as motivações internas, que na verdade fazem tudo acontecer: as decisões que são tomadas, aqui ou ali, sempre ancoradas em um mundo de sentimentos tempestuosos. decisões, certas ou erradas, quem pode dizer? decisões turbulentas.

em Arquivo X havia uma conexão emocional, antiga, que rodava a máquina dos sentidos para tudo que Mulder buscava compreender. Scully possuía a rara capacidade de aceitar o que havia de estranho em Mulder, e que na verdade não era estranho, e sim bem simples, tocante, genuíno e verdadeiro. em meio a histórias sobre-humanas, as motivações de Mulder e Scully, e suas solidões, estavam sempre lá. o resto era magia, suspense, intriga e medo, tudo que compõe as boas narrativas.

House é, lembrando Nietzsche, demasiadamente humano. tudo que a velha moral cristã ensina como errado aparece em House. ele é arrogante, manipulador e cínico. e mais grave do que tudo: ele não sente culpa. House certamente não vai para o céu. o que dizer de um personagem que diz, das pessoas que se preocupam com ele: “elas me entediam”?

atire a primeira pedra quem não se sentiu incomodado, uma única vez, pelo excesso de afeto de alguém. ou quem não quis ficar sozinho, uma vez, e ficou chateado por ter que explicar a alguém que, sim, estava tudo bem, só queria mesmo ficar sozinho. é evidente que, em House, tudo isso está exagerado para caracterizar um personagem. mas todos nós já vivemos situações assim. a diferença é que a maioria de nós, mortais, sente culpa.

House não parece muito feliz. afasta as pessoas porque não encontra parceiros que lhe causem prazer duradouro. mas também os afasta porque deve se achar companhia pouco convincente, de forma duradoura. na verdade, o charme de House é a grande ironia de uma mente brilhante que se torna refém de sentimentos turbulentos – por enquanto, estes sentimentos parecem sob controle no isolamento.

mas, hum, a quem eu quero enganar? tá. eu levaria umas bengaladas (literais, néam? eu sou uma pintinha de família).

4 comentários:

Carlos Eduardo Carrion disse...

House é o personagem que nos desafia por mandar para os quintos do inferno uma das matrizes psicológicas do funcionamento psíquico ocidental, cristão, judaico, islâmico, etc. e tal. O que nós temos dificuldade em aceitar é a idéia de que NÃO EXISTE CULPA (com exceção do sistema judicial e religioso). Pois como é que alguém pode ser culpado por algo que, quando ele fez, no exato momento em que ele fez, ele imaginava que seria o melhor que ele deveria fazer. Ou porque ele não escolheu o "certo"? Eu deveria ir na casa da ..., talvez assim não tivesse acontecido isto ou aquilo. Quem diz se ela tivesse ido, não teria acontecido uma outra coisa, muito mais grave.
Culpa não existe e é bobagem.

Anônimo disse...

Eu não vejo muito House, mas ouço falar desse seriado em tudo o que é lugar! Arquivo X, sim, eu adorava. Lembro que quando lançaram o filme fiquei tri curiosa pra assistir... No fim não superou a série. Ainda tenho alguns episódios na cabeça e morria de medo. Passava bem tarde e geralmente a única habitante da sala no horário era eu! Terror. Qualquer barulho suspeito na casa me fazia virar estátua O.Ô

Anônimo disse...

cough! cough!...
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*****

limpando a garganta, ué?!?!? :)

Eu não sei, você sabe? disse...

ai, pinta esperta!
esse ano eu finamente me rendi aos "belos olhos" do house.MEnina, em algumas circuntâncias tento convocá-lo para ajudar em algum diagnóstico...mas as bengaladas literais (ou não!) - entre parenteses como vc disse gostar - assim como vc, eu não declinaria...rs
o incrível é cruzar com tipos como o do House...