é. o tal mundinho da pesquisa acadêmica nem sempre é o que, por definição, deveria ser: um espaço de debate e avanço científico. muitas vezes ele se resume à exibição de vaidades que impedem o diálogo. já vi bancas execráveis em que o trabalho avaliado era o que menos importava. o que realmente estava em jogo era a visibilidade do argüidor, tomando argüição em seu sentido mais devastador.
ontem a Janaine, minha orientanda de mestrado, fez sua qualificação. não costumo tratar destas questões no blog, porque falar da vida de outras pessoas me parece invasivo. a tarde de ontem, porém, renova minha crença de que é possível fazer, da pesquisa individual, um bem coletivo.
Ângela Felippi e Ana Cláudia Gruszynski formaram a banca avaliadora. e que banca. cada uma em sua área de conhecimento, ambas partilharam saberes que só podem ser percebidos como presentes generosos. nada do que anotei, de suas contribuições, foi irrelevante. nada do que disseram indicou que desejavam um outro trabalho – também um problema freqüente entre argüidores que não compreendem o valor da alteridade para o avanço da pesquisa.
tenho vivido, desde o final do ano passado, submetida a uma série de eventos que arrefeceram minha fé na avaliação empreendida pelas instituições. o trabalho lento – e delicado – da formação de pesquisadores anda sendo subsumido por uma produtividade numérica questionável. não é assim que se forma um pesquisador rigoroso. é preciso dar-lhe tempo, oportunidade de refletir, conhecimentos que também, por sua vez, foram construídos com tempo e vontade. e, especialmente, posicioná-lo no lugar de um igual.
por isso, por estas vastas emoções que talvez Rubem Fonseca compreendesse na lógica dos pensamentos imperfeitos, a banca de ontem foi bem mais do que uma banca. chegou, para mim, como um vento poderoso.
vejo que escrevi sobre crença e sobre fé. é porque todo mundo precisa acreditar em alguma coisa, para fazer o que faz e ser quem é. também o orientador precisa acreditar – na inteligência do orientando, na força da pesquisa, na competência dos pares. e em tempos melhores.
3 comentários:
minha mãe e eu sempre nos espetamos e o objeto do espetamento é justo esse, a cadmía. ela, medical doctor, reclamando que hoje em dia a academia é um restaurante de canibalismo onde nem o pobre chef tá salvo. mesmo com orgulho de mim, reclamando dos egos de dotorzinho de merda que se formam, todos os dias, nas universidades mundo a fora. eu, querendo chegar a philosofical doctor, dou toda razão pra ela, apesar de estar tentando ainda ter fé nessa coisa que escolhi pra ser minha vida, a cadmía. e aí eu pelo menos me seguro é em crenças como a tua, que sempre tá lá pela cadmía com menos espelhos e mais portas.
vamo acreditá, né? e continuar pensando, que é a única coisa que a gente sabe fazer. afinal, cientista que não tem fé é dose!
É bom te sentir confiante e feliz com o que tens feito.Parabéns para a Ana, que aprendi a respeitar como professora dedicada e para a Janaína ( apesar da ciumeira de ex-orientanda que perdeu as horinhas de convívio).
Eu só acrescentaria o seguinte: não basta acreditar em tempos melhores. Tem que lutar por isso. Portanto, tem que denunciar essa farsa produtivista que transforma a academia no contrário do que ela deveria ser. Tem que agir politicamente para enfrentar esses caras que ocuparam esse espaço de poder e ficam impondo regras estúpidas, provavelmente para esconderem a própria incompetência.
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