26 abril 2009

Nova Poética

[Manuel Bandeira, 1949]

Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito.
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama:
É a vida.

O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfa, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.

4 comentários:

Ederson disse...

uma vez fiz uma entrevista com o Fabricio Carpinejar, e ele disse que achava o fim quem escreve poemas sobre poemas. concordo com ele desde então. por mais bonito ou interessante que o poema seja, sempre me vem a pergunta "e daí?". é como se eu começasse a fotografar máquinas fotográficas. por mais bonitas que sejam, só interessam realmente aos fotógrafos.
Sei que a comparação é ruim, e o poema do MB é bom, mas me veio uma infinidade de "Poemas no ônibus" à minha mente e tive que dizer algo a respeito.

Marcia disse...

os bons poemas sobre poemas não são sobre poemas. são metáforas de outras coisas. são metáforas daquilo que nos pega pelo estômago, ou que nos soca o estômago em estranhamento profundo.

o resto é poesia ruim, frase de efeito ou marketing pessoal.

sylvia moretzsohn disse...

Boa, Marcia!

Anônimo disse...

A FLIP desse ano é dele :)