22 outubro 2006

o que importa

o dia amanhece belo e com cheiro de conhecido. se nada atravessar o caminho, será um dia como muitos outros: nem muito excitante, nem muito modorrento. apenas habitual, a vida no gerúndio. mas algo se atravessa. queira ou não, estando preparado ou não, algo se interpõe. um olhar que ainda não havia se derramado daquele jeito. uma palavra que faz ferver, um conceito que se desestrutura, uma perspectiva que desestabiliza.

e então, camarada Lenin, o que fazer? o algo está ali e reclama uma decisão. o dia belo parece agora nebuloso e o cheiro de conhecido desapareceu. a terra interna sai pelo estômago. possibilidades, fantasia, imaginação. nada mais resta a não ser ver a si mesmo em perspectiva. para dentro.

do futuro nada sabemos, a não ser que ele decorre do que escolhemos hoje. a vida traz sempre suas impertinências, e a maior delas é este não-saber o que teria sido se tivéssemos feito outra escolha. como no poema de Cecília Meireles, “ou isto ou aquilo”. a cada vez, ser profundamente honesto e tomar a única decisão decente: a que diz respeito à nossa própria natureza, àquilo que nos distingue dos demais.

somos o que decidimos. sem receio do futuro, sem culpa pelo passado. a vida é o que construímos, passo a passo, mirando o mais alto que pudermos na linha do que desejamos ser. e os outros, por mais que nos digam o que fazer e por mais que julguem nos conhecer, pouco sabem do que vai por dentro, do que nos move de fato, do que precisamos ser.

quando retiramos dos dilemas seu aspecto moral, eles se tornam água boa de beber. e os dias podem voltar a ser belos, pois estamos no comando do que importa na vida que escolhemos ter. ficar, focar, fundar. e atravessar o oceano.

7 comentários:

Anônimo disse...

"Look all around... there's nothing but blue skies!
Look straight ahead... nothing but blue skies!
I can see clearly now, the rain is gone.
I can see all obstacles in my way.
Gone are the dark clouds that had me blind.
It's gonna be a bright, bright, bright, bright sunshine day!"

Anônimo disse...

Pinta,

Escolhas. Escolhas, sim. Sempre vivi, disse, bradei, berrei: somos os que escolhemos!

Só não sei se o futuro simplesmente "decorre do que escolhemos hoje". Não sei se o que escolhemos hoje é apenas o que já determinamos para nós mesmos no futuro. Se só o presente escreve o futuro ou se o futuro também pode mesmo escrever nosso presente. Se nossas atitudes presentes não são a simples realização, a compreensão das escolhas que já fizemos no passado para a determinação do nosso futuro, mas que até então sem elas, as atitudes, nunca poderíamos compreender (as escolhas).

Jogar para escanteio os aspectos morais é um sonho que nunca alcancei nem nunca alcançarei, mas que morrerei buscando.

Meu barquinho vai que nem o seu... atravessando esse marzão que não há.

Beijo,

Graziana Fraga dos Santos disse...

disse tudo o que ano pensando nos ultimos tempos
belo texto :)

Rosamaria disse...

o dia hoje amanheceu belo e com cheiro de conhecido. espero que não se torne nebuloso.
as escolhas têm que ser bem feitas pra não nos arrependermos depois...
que as tuas tornem brigth sunshine your days.

Telejornalismo Fabico disse...

*

uma bóia no meio do oceano tem a aparência de um continente.


*

Anônimo disse...

Pinta, tem um convite prá você no Indizível!

Beijos,

Ana disse...

Estar no comando. Escolher.
Assustador, mas delicioso!

Um brinde aos dias que voltam a ser belos! Com esta água que tu falas! Boa de beber! Vital!