17 maio 2007

Centenário

o incêndio do Instituto Metodista Centenário, na quarta-feira, foi um presente de grego para Santa Maria, um dia antes do aniversário da cidade (para ler a matéria no Diário de Santa Maria, clique aqui). em 15 minutos, durante a madrugada, o fogo consumiu um prédio inteiro, incluindo o museu, salas de aula, o arquivo, a associação dos ex-alunos e toda a parte administrativa da graduação e da pós-graduação. o fogo destruiu a memória física que residia ali.

eu estudei lá, dos 6 aos 14 anos, quando ainda era apenas o Colégio Centenário. lembro da sensação no primeiro dia na pré-escola, das aulinhas de arte, dos balanços no pátio. depois, das aulas de história, de inglês, dos encontros semanais no famoso auditório do Centenário, quando sempre tinha alguém se apresentando – teatro, dança, música, crianças alvoroçadas inventando alguma coisa para exibir. os imensos corredores, a misteriosa diretora de coque duro de laquê, o sino que anunciava os fins dos períodos e o esperado recreio. mais tarde, a saída do Centenário, com os garotos em fila esperando pelas namoradas, as discussões com a professora de geografia, a excelente professora de português. desde cedo, os amigos. desde sempre, coerência no ensino, regras das quais podíamos discordar, mas que tinham uma filosofia.

dói bastante imaginar que uma parte disso tudo se perde de repente. são 85 anos de história de um dos colégios mais tradicionais de Santa Maria. a cobertura da Zero Hora, em tese o jornal mais importante do Estado, na edição desta quinta-feira, é absolutamente lamentável. sem informações relevantes, sem sensibilidade, sem depoimentos, sem compreender o significado disso tudo. não sei quando a Zero Hora vai aprender a fazer jornalismo de verdade, jornalismo que vai fundo na cobertura dos fatos e diz respeito à vida das pessoas. se nem um incêndio de grandes proporções, em um dos colégios mais respeitados em uma das maiores cidades do Estado, vale uma matéria decente, não sei o que é notícia de interesse humano, o que vale reportar ou o que interessa ao leitor.

só posso lamentar. pelo meu Centenário, que aos seis anos me fazia cantar “tu és o nosso lar, no ano escolar, ó Centenário, ó Centenário” — cheia de orgulho infantil, vestindo uma sainha xadrez ridícula com meias brancas. e pelo jornalismo tosco, burocrático e agonizante de Zero Hora.

11 comentários:

Reges Schwaab disse...

assim como essa perda, que é lamentável, outras tantas tem se acumulado por aí sem que se dê a mínima. museus, prédios históricos, documentos, bibliotecas estão se desmanchando. resultado da inoperância de sucessívos cegos que ocupam as cadeiras estofadas e de lá brincam de mandar. os mesmos que são avalizados, por exemplo, por esse jornalismo que enxerga muito mal e mesmo assim diz que vê a vida por todos os lados.

Unknown disse...

foi extremamente lamentável, pinta! ontem falei com um professor de lá e todos estão atônitos com o que aconteceu. e poderia ter sido pior. se o fogo tivesse chegado à biblioteca, teria sido total.

e quanto ao jornalismo...vcs sabem.

MC disse...

lamentável mesmo. tenho quase certeza que minha mãe também estudou lá, mas ainda não comentei o assunto com ela. eu sempre fico morrendo de pena quando acontece esse tipo de perda histórica. além da papelada burocrática toda que devem ter perdido, fico pensando em todas as lembranças que se foram com o incêndio. imagina a tristeza dos funcionários antigos??
triste.. :(

Anônimo disse...

A minha primeira escola foi um marco na minha vida, ela foi um dos pilares do meu amor pelo estudo e por fazer dele a minha vida...

Mais do que o prédio, que é realmente inestimável, pegou fogo num pedacinho de várias histórias, na verdade. Num pedacinho de várias infâncias.!

Sinto muito, pinta! :(

LU K. disse...

e aqui por são paulo, uma das principais causas de incêndios seguem voando pelos ares: os balões. ontem, um deles quase destruiu uma parte da história de são paulo - o centro cultural são paulo. triste ver registros de um passado serem consumidos pelo fogo...

Anônimo disse...

Que coisa mais lamentável que tenha acontecido isso com a escola. Talvez tenha saído alguma coisa mais ampla na filial de Santa Maria, mas dúvido. Abs

Vivien Morgato : disse...

Não conheço o Zero Hora, mas compactuo com vc essa crítica em relação ao que vc classificou como "jornalismo burocrático".
A perda de uma escola que estava tão presente na história da cidade não podia ser descrita de forma insossa. bj.

Zeca La-Rocca disse...

Eu não estudei lá... o meu sentimento é outro. A perda de um valor arquitetônico, um ícone da educação, uma parte da identidade urbanística... E pior, o q vai acontecer ali? restauração? será?
Pior ainda: tem os que vão achar normal, destruir as ruínas e construir um prédio de arquitetura, talvez, duvidável, mas "modernoso". Sem se darem conta que não foi apenas o Colégio Centenário que queimou, ou parte da história de quem estudou lá, mas um pedaço da identidade de todo santamariense, e de todos q viveram ou vivenciaram, que vivem e vivenciam Santa Maria.
Esperemos pelo pior,lamentavelmente!

Raíssa Genro disse...

Como um amigo meu já disse, quase todo mundo de Santa Maria tem uma lembrança do Centenário.
Eu lembro do refeitório, onde só comi de fato uma vez( que vale uma lembrança também, a primeira noite fora de casa, a festa junina, os colchonetes), onde fiz aulas de ginástica ritimica e muitas amigas. Ainda bem que existem as fotos.

Ana disse...

Putz! Eu não sabia que era o Centenário!!
Fiquei 1 mês, lá, no internato! Saí de lá correndo porque odiei as regras! Mas guardo boas lembranças!
Que pena... Que tristeza...

Anônimo disse...

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