o Sean fez um post sobre palavras de sons interessantes. o post funcionou como um ímã, para mim, porque algumas idéias são mesmo puro ímã. e fiquei voltando lá, a todo instante, para comentar e jogar palavrinhas.
isso se conectou a uma discussão que tomou forma – no melhor dos trocadilhos – na minha aula de quarta-feira, provando que todas as tardes, inclusive as de quarta, podem ter o sentido que quisermos dar a elas. em plena discussão acalorada, levanta-se o nada óbvio conceito de que a forma é formante: no discurso, a forma e o conteúdo não se separam. e o sentido, que as pessoas habitualmente buscam apenas no que entendem por “conteúdo”, está formado também pela forma. numa redundância proposital, a forma é formante, porque isso constitui um conceito.
no meio de todos os comentários do post do Sean, em que as pessoas foram lançando palavras aprazíveis, pelos sons ou pelos sentidos, Carrion disse algo que me chamou a atenção. e estes pequenos ímãs, que quase nunca se explicam logo de saída, levaram muitas horas para fazer outros sentidos na minha mente confusa. ele postou diversas palavras de que gostava. uma delas era instigante, pela capacidade de sintetizar inúmeros sentidos em um só.
sim, é verdade. instigante é uma das palavras de que mais gosto. não pelo som engraçado, como estava sendo meu raciocínio ao comentar, mas pelos sentidos que provoca, de modo mais abrangente. costumo cheirar algo que me parece bom, porque tenho prazer com certos cheiros. sinto-me instigada, imediatamente, e quase não consigo resistir quando alguém ou algo me parece bom de cheirar.
normalmente meu olho é chamado pelas imagens, cores e volumes que sugerem texturas, pois texturas me instigam. nem sempre posso tocar, e na maioria das vezes não é preciso. o desejo do tato foi acionado, e instigar os sentidos é um grande deleite. quando uma mão macia, que era apenas uma imagem, realmente toca, o que se concretiza é um prazer que só um sorriso interno pode narrar. por isso acabo tocando as capas de certos livros, que me convidam, as tampas de certos objetos e o umbigo do Buda que fica ao lado do meu computador.
mas o que me instiga, mesmo, é uma outra mente instigada. quando um outro bate, rebate e sente prazer no movimento do mútuo instigar-se. este é o meu grande prazer: saber-me na presença de alguém que me instiga e se deixa instigar. quando alguém está cansado do mundo, ou acha que sabe o suficiente, ou se acha suficiente para o mundo, não há nada a fazer a não ser ir embora. quando os olhos brilham com uma idéia, um caminho, uma estradinha, um mapinha, ainda existe algo a fazer.
8 comentários:
Os diminutivos são outra sonoridade típica de palavras portuguesas. São cheios de afeto e a Marcia adora. Acho os diminutivos instigantes!
eu tenho estado meio cansada do mundo. Então as coisas, as pessoas e as idéias me instigam, mas eu não acho energia para instigar de volta. É péssimo, porque a mutualidade da instigação é fundamental.
ALEX,
é verdade. eu adoro os diminutivos. e uso com quem merece. vc, por exemplo, merece mimosinho.
MAROTINHA,
pura bobagem. vc instiga sempre. ô.
instigante esta tua aula sobre discursos :)
Instigante... Muito instigante!
Mas o que o Maroto falou é real: instigar de volta parece ser fundamental.
Mas aí tem a coisa do dialogismo, neh?! Quando alguma coisa te instiga, ela já está em relação com vc. Mesmo se parecer que não há resposta...
:P
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putz, acabei de publicar um post novamente falando sobre a forma formante - assunto que recorro sempre, junto com meu amigão maffesoli - e chego aqui e me deparo com o teu post.
instigante como alguns assuntos ficam rondando nossa cabeça e se materializam, aqui e ali, em formas e cores diferentes.
instigante como um umbiguinho pode conter tanto prazer.
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ó, pinta, quando os olhos não brilharem mais com uma idéia, um caminho, uma estradinha, um mapinha, nada mais vai instigar.
além das imagens, cores e texturas, a música me instiga muito.
instigo, sim. Principalmente quando não devo :(
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