19 novembro 2007

veja só que estupidez

o peixe morre pela boca. os arrogantes também. quando o editor de Internacional da revista Veja, Diogo Schelp, disse em tom magoadinho a Jon Lee Anderson, repórter da New Yorker, “você pode ficar certo de que não aparecerá mais nas páginas desta revista [Veja]”, pronto: morreu. poucas vezes vi alguém dar demonstração tão cabal da própria estupidez. e poucas vezes vi a estupidez alheia ser tão grosseiramente defendida, alinhando o defensor ao bloco dos estúpidos, como o fez Reinaldo Azevedo em seu blog. não sei o que foi pior: a matéria original sobre Che Guevara, a resposta de Schelp ou a defesa de Azevedo. foi a paráfrase do Exército de Brancaleone. só que não teve graça.

a história é complexa e confusa. para quem não acompanhou, o blog de Pedro Doria recupera bem (leia os textos “O problema de Veja”, “Jon Lee Anderson e sua tréplica”, “Reinaldo Azevedo defende Veja...” e “Veja, Che Guevara...”). resumidamente, Anderson, autor de “Che Guevara, uma biografia”, reclamou da reportagem. Schelp não gostou e, entre outras bobagens, fez o que um jornalista jamais deve fazer: disse que seu desafeto acabava de entrar para uma lista negra de Veja. em bom português, admitiu publicamente que certas fontes não são ouvidas, ainda que sejam fundamentais. ou seja: Veja não faz jornalismo.

para mim não importa especificamente a discussão entre Schelp e Anderson, embora eu tenha lido tudo e tenha opinião formada. Schelp errou. a reportagem foi mal apurada, sim, e a tréplica de Anderson esclarece bem as fontes escolhidas pela revista. prova-se mais uma vez que Veja faz “jornalismo de tese” – e “jornalismo”, aqui, é apenas uma licença poética, pois conceitualmente isso não é jornalismo.

o que importa mesmo é que Schelp morreu pela boca. entregou de bandeja, publicamente, que tipo de “verdade” você, leitor de Veja, está levando para casa todo domingo. eu, no seu lugar, demitiria Schelp e Reinaldo Azevedo. basta cancelar a assinatura. ou não comprar mais. inteligente mesmo é aproveitar a estupidez alheia e não aparecer mais nas páginas desta revista.

9 comentários:

Graziana Fraga dos Santos disse...

estava falando sobre a veja ontem com uma colega, não acompanhei estes textos, ando fora do ar, mas é incrivel com as pessoas confiam na Veja e continuam assinando, lendo e acreditando que eles fazem jornalismo!

mimi aragón disse...

pinta, já tem tempo que ando roxa de vergonha pelos 'profissionais' da óia (que, na minha humílima opiniãozinha, a outrora respeitável veja desencarnou faz mais de 20 anos...).

Anônimo disse...

ah, que pena, achei a matéria ótima, fiz até uma camiseta "Fuck Che". Sorte que ainda não usei.

Maroto disse...

a Veja deveria ser objeto de análise obrigatória em todos os cursos de jornalismo do país. Seria difícil pra caramba ensinar o que *não* fazer sem exemplos tão bem elaborados!

Reges Schwaab disse...

e eu conheci um figura que ficava furioso quando falvam mal da Veja. e ele forma jornalistas.
que coisa.

Gata disse...

Mais uma prova dos meus engulhos em certas partes das bancas de revista...

Rosamaria disse...

e eu que não entende de nada disso só ouço dizer que não dá mais pra ler essa revista. eu assino a outra, similar.

Ana disse...

Que coisa, Pinta...

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Esse conselho eu já segui há algum tempo. Troquei a Veja pela Carta Capital. Não é tão imparcial quanto eu gostaria (acho que isso é ilusão) mas é menos irritante.

Aliás, Reinaldo Azevedo é o fim!