21 maio 2008

rumo ao limbo

é chocante a decadência da IstoÉ. desde janeiro acompanho todas as edições desta revista, além das edições de Veja, Época e Carta Capital, para a pesquisa que desenvolvemos na UFRGS com apoio do CNPq. entre as quatro principais revistas brasileiras semanais de informação, IstoÉ se revela a mais fraca.

nesta semana, a revista se atirou sem pára-quedas em direção ao limbo. sua reportagem de capa é “Como interpretar seus sonhos: aprenda com os especialistas a decifrar as mensagens que recebemos durante o sono e as pistas que elas podem dar sobre seu futuro”. mal consigo encontrar as palavras para descrever como isto é inadequado, tanto pela abordagem quanto como escolha de matéria principal.

no miolo, seis páginas tratam desta pauta, com muita ilustração e muita citação de fonte. uma arte decifra o significado dos símbolos água, serpente, dentes, nudez e morte. a interpretação é primária. Jung, citado já na abertura da matéria, deve estar se revirando no túmulo ao ver como seus conceitos de arquétipo e de inconsciente coletivo foram apropriados para construir uma capa de auto-ajuda.

as revistas semanais dão grande valor às pautas de comportamento. cada vez mais, a se julgar pela presença destas temáticas, os leitores se vêem seduzidos por guias de comportamento, sempre recheados de citações de “especialistas”. não tenho como avaliar se esta capa aumentou a vendagem em bancas – pela promessa do “aprenda” ou pela promessa de que seria possível prever o futuro.

o que é possível afirmar é que IstoÉ está em queda livre. o jornalismo praticado é de baixíssima qualidade. suas capas são irrelevantes, suas abordagens são superficiais e presumem um leitor idiotizado. leio agora no Comunique-se que o Grupo Três, que edita IstoÉ, entrou em acordo com seus credores para evitar o processo de falência. a dívida chega a R$ 750 milhões.

é melancólico ver tudo isso. especialmente para quem se lembra, como eu, da excelência de IstoÉ Senhor. quem abandona o rigor e a qualidade, em nome de um jornalismo simplista, não tem salvação neste mundo. deveria ter?

8 comentários:

Rosamaria disse...

pinta
quem faz as assinaturas de revistas ou jornais aqui em casa sou eu. eu que sou metida, hehehe. temos assinatura da Istoé há muitos anos e, da última vez que ligaram para renovar eu não estava em casa e o Taba renovou até...2010! Depois se arrependeu, agora temos que aguentar.
bjim.

venuss disse...

isso aconteceu pq ninguém sonhou com a possível decadência. Então não puderam decifrar o sonho e evitar.

Anônimo disse...

Você que está fazendo essa pesquisa terá muito mais condições de argumentar, porém quando li a última frase pensei imediatamente em vários exemplos semelhantes das outras revistas. Quantas capas desse estilo a Veja e a Época já não publicaram? Você, que é doutoríssima em Veja e deu aquela resposta sensacional sobre a possibilidade de se romper o contrato entre publicação e leitor (tanto que havia cancelado a assinatura...), me diga: desde quando a Veja se pauta pelo rigor e pela qualidade? E como é que continua a vender? Isso pra mim é um mistério.

Marcia disse...

Rosa,
até 2010 é muito tempo... :(

Venuss,
é que eles não leram a matéria. :P

Sylvia,
tampouco eu consigo entender o sucesso de Veja.
é uma revista irritante.
mas eles têm um marketing agressivo, insistente, se vendem bem.

Maroto disse...

"quem abandona o rigor e a qualidade, em nome de um jornalismo simplista..."
Alguma publicação brasileira ainda não fez isso?

ninguém disse...

ÉR. Mais uma cria do Mino Carta que vai ladeira abaixo. Áliás, nem Carta Capital se escapa. Tá ruim. Tudo.

TARCIO OLIVEIRA disse...

O apoio da CNPQ cobre a insalubridade da pesquisa?

Marcia disse...

MAROTO,
não temos um jornalismo perfeito. mas IstoÉ anda abusando.

AMRISTELA,
Carta Capital ainda tem bons textos e boas pautas. não pode ser lida sozinha, mas faz um contraponto interessante.

TARCIO,
insalubridade seria uma boa. :)
pelo menos uns remedinhos contra enjôo. :P