03 maio 2008

tanto

que nome dar a um sentimento que atravessa o tempo, renascendo em intervalos irregulares apenas porque se recusa a partir? que nome dar às sensações que permanecem vivas na memória e no calor dos corpos? o que é isto, que se recusa à morte ou ao esquecimento?

dicionários são pequenos para descrever um sentimento que está além das palavras – que pode ser enunciado, mas não à altura do que vibra na alma. na imensidão da vida, existe uma espécie de solidão em reconhecer esta incapacidade de dizer o que um olhar, um som e uma saudade são tão eficientes em conter. e talvez apenas o silêncio carregue a verdade em sua forma mais pura. o silêncio, guardado em si mesmo para quando nomear já não seja tão perigoso.

ou, como diz Fernando Pessoa:

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

6 comentários:

Anônimo disse...

Lindo.
Denso.
Cheio de vida.

Aprender-te é mais que gostar de ti.
Saber-te, um privilégio.
E, entre o querer e a sorte (que só a poucos se concede), me entrego a uma noite de sono estenuado, cansaço que demorou a ser sono por não querer dormir. Só pra tentar guardar, vivos, sons, cheiros, sensações, lembranças; prazeres que a noite revela e que o dia dilui.
Quem sabe, dormindo mais tarde, o dia demore mais a chegar.

Bj
Rogério

Graziana Fraga dos Santos disse...

que lindo texto, adorei!!!
tem certos sentimentos que nao sao possiveis descrever com palavras, dizer que ama as vezes parece pouco diante do que se sente...

Maroto disse...

e as pessoas, Fernando, e as situações, e os poetas... como é bom ter o cofre cheio!
Ôps.

Rosamaria disse...

uau!
lindo demais, pinta! com certeza tem coisas que a gente não encontra palavras pra dizer. pode ser muito mais que amor.
bjim.

Ana disse...

Pintinha...
Se nem tu achas as palavras, imagina nós, pobres mortais!

Teu "tanto" é infinitamente tocante. Bonito. Bem-dito!

Caco disse...

Gente, é isso mesmo!
(pausa para meu silêncio)
um beijo