18 abril 2009

a entrevista oficialesca

quinta-feira eu vi a governadora Yeda Crusius sendo entrevistada em um programa de debates na TVE. quantos erros existem na frase anterior? pelo menos um. o programa, Frente a Frente, não foi de debate. os convidados para entrevistar Yeda eram dois jornalistas conhecidos pelos gaúchos: Políbio Braga (jornal O Sul) e Rogério Mendelski (Rádio Guaíba). acuado em um canto, eu diria um pouco constrangido, estava o apresentador do programa, Ricardo Azeredo.

como este é um mundo de livre expressão, acho que posso reformular a frase: quinta-feira eu vi um longo pronunciamento oficial da governadora Yeda Crusius, na TV estatal, travestido de jornalismo. teria sido mais honesto, embora provavelmente menos eficaz, se a governadora tivesse solicitado 60 minutos para falar aos gaúchos. há uma diferença entre propaganda e jornalismo, porém. o jornalismo confere credibilidade a seus discursos. o efeito de verdade obtido em um programa de entrevistas, um programa "de debates", é infinitamente maior do que o obtido em qualquer fala oficial.

sentada em uma cadeira imperial no Piratini, Yeda disse muitas coisas. reclamou de uma mídia persecutória. falou da inauguração de cisternas e trechos de asfalto. propagou elogios recebidos por prefeitos da oposição. disse que é "naturalmente candidata" à reeleição. e contou que ficou muito emocionada ao ser aplaudida por um grupo de jovens, em Rio Grande, enquanto comia um pastel de peixe em um bar.

foi como um jogo de vôlei. Políbio e Mendelski levantavam a bola. Yeda cortava. sem bloqueio, é claro. quase um Silvio Santos sendo "entrevistado" em um programa "de debates" no SBT. Políbio dizia "é o que eles querem", referindo-se aos oposicionistas. Mendelski sugeria mais propaganda dos atos do governo. apoio e consultoria.

para quem estuda discurso, este programa é um prato feito. basta degustar. três jornalistas, um político. ambiente discursivo: uma TV comandada pelo próprio político. um dos jornalistas é pago pelo dono da TV, tenta cumprir a tarefa com o mínimo de comprometimento. os outros dois jornalistas seriam o lugar da pluralidade, do confronto de idéias, das perguntas de relevância pública. mas estão concentrados em defender suas posições ideológicas, as mesmas do político a ser entrevistado. a "entrevista" deixa de ser jornalismo, embora mantenha seu formato.

há outros detalhes que merecem ser estudados. Yeda acusa a mídia de perseguição. e depois confessa que não lê mais a mídia. Yeda minimiza o efeito que as manifestações constantes em frente ao Palácio teriam sobre ela, diz que são normais em uma democracia. mas depois se mostra ofendida com o que é obrigada a ouvir. Políbio diz, de relance, que os acusadores da governadora são mentirosos. o que ela não diz, ele diz.

o mais interessante, porém, é o que não está visível. por que agora? por que falar neste momento? enquanto assistia ao programa, ia se formando em mim a sensação de que Yeda está vulnerável. sempre que alguém decide mostrar força, a gente remexe as cortinas e vê alguém enfraquecido. a coluna da Rosane Oliveira de hoje confirma o que percebi. Yeda está isolada e se sentindo isolada. sem ter em quem confiar, fruto de sua incrível capacidade de destruir a própria base aliada, começa a bater na tecla do abstrato "carinho dos gaúchos". talvez ela acredite que esta idéia fluida possa levá-la a sentar naquela cadeira imperial até 2014.


11 comentários:

Dieta já disse...

a mídia não precisa perseguir a governadora. basta noticiar o que ela faz. parece que ela chama encrenca. nunca vi nada igual.

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Márcia,

Será que este programa não é um filhote do Roda Viva, da TV Cultura? Aquela estação de TV que serve ao governo do estado de SP e ao PSDB?

Rosamaria disse...

tu sabe das coisas, né, pinta, por isso que eu gosto de ti!

bjim, cosquirídia.

Telejornalismo Fabico disse...

*



a yeda serviu pra alguma coisa: minha sobrinha de 16 tem-se politizado gritando "fora yedinha" na frente do palácio piratini.
engajamento total na queda da nobre senhora.

péssimos políticos também fazem cidadania, veja só.




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clarissa disse...

fiquei com muita pena da TVE

O Coala disse...

bacana. alguém devia fazer uma monografia sobre isso =)

Carlos Eduardo Carrion disse...

Como não tinha o teu email, no momento, aproveito este espaço. Um beijão do fã.

de cujus?
auriculares?
ai, meu deus.
não me admira que tenha morrido.

21 de Abril de 2009 00:22


Carlos Eduardo Carrion disse...
Please sinonimos, please, pois no Houais faltam sinônimos para estas palavras.

Marcia disse...

Kérriooonnnn

eu só quis dizer que o cara tava velhinho. o cara, não tu. pestinha.

Carlos Eduardo Carrion disse...

Falo sério, a falta de sinônimos para estas palavras é grande. Podia usar fones de ouvido, mas esta também é antigona. Cadáver também é sinônimo, mas cheira mal, não é bonita, e eu me pretendo um esteta.
Total, pretensão pouca é bobagem.

Graziana Fraga dos Santos disse...

ai, ai, como é bom estudar discurso!!! pena que nao vi o programa!
a governadora tem feito, ou não tem feito, coisas para ter esta imagem negativa na midia.
é muito feio usar a tve pra discursar, mas dela espero de tudo, só não espero que se reeleja.

Carmem disse...

Achei o Ricardo Azeredo muito à vontade. Teve momentos em que ele expressava até um sorrisinho satisfeito. Me pareceu que sentia orgulho do papel patético a que vem se prestando como apresentador do programa que virou palanque do desgoverno Yeda Cruzes.