12 setembro 2005

eu, passarinho

às vezes a vida nos toma nas mãos. e o passado retorna, trazendo na boca uma flor delicada. você busca na memória o que um dia pareceu inesquecível – e encontra apenas a sombra daquele fato, daquele dia, daquela estrela.

você se sente estranho, como se tivesse permitido que uma vida fútil soterrasse as coisas importantes. você se pega sem jeito por não lembrar um gesto que resiste na memória de alguém. você se sente delirante, tateando sensações. e compreender é um luxo ao qual você não tem direito.

sim, é desconcertante rever um grande amor – e também os pequenos, os médios, os insanos, os breves, os fundos, os leves, os nem tão amores assim. todo passado nos desafia a modificá-lo, como se pudéssemos retomar abraços, reconstruir noites, refundar sentidos. todo passado é um cão que nos olha sedutoramente, segurando nos dentes esta flor delicada.

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