entre todas as relações possíveis, a amizade me parece ser a mais complexa.
uma relação de amor é sabidamente cheia de meandros e delicadezas, mas exige desejo, saudade, vontade. quando o tesão murcha, o prazer de estar junto reflui e a indiferença ganha terreno, a gente sabe que é hora de ir embora.
mas: e a amizade? quais são os indicadores de que acabou, está acabando, vai acabar? quando não há exatamente uma traição ou uma deslealdade, quando não há um fato, mas pequenas coisinhas desencorajadoras que se repetem, quando tudo que há é uma sensação de não mais ser compreendido nas coisas essenciais, o que nos autoriza a ir embora?
às vezes penso que inteligentes são as pessoas que se dizem – e se querem – frágeis. as que se magoam com um olhar ou uma ausência. as que se melindram com um gesto qualquer. as que exigem presença, carinho, conforto. as que exibem a dor da vida. as que se arrastam. enquanto elas pedem, reclamam, exigem, os supostamente fortes oferecem, apóiam, protegem. agüentam no osso do peito as palavras duras e o dedo na ferida. e o jogo nunca se inverte. cada um em seu papel. até que o supostamente forte, cansado de ser cobrado pelo que não deve ao outro, decide ir embora – e se juntar aos seus.
adoraria ter um amizadômetro. que entraria em alerta depois de xis injustiças, situações constrangedoras ou incompatibilidades no modo de ver o mundo. e recolocaria os sentimentos de novo no seu lugar, já que um amigo, à diferença dos diamantes, nem sempre é para sempre.
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