30 dezembro 2005

quem importa

estes meus últimos dias de cada ano ficam, a cada ano, mais descomplicados. o tempo limpa a visão para o que está à frente, ao lado e além. o tempo ilumina o que está dentro de mim e de quem me interessa. o tempo me mostra quem importa. quem faz a diferença entre um mundão de indiferentes. quem vale querer. de quem esperar. por quem esperar. por quem tremer.


não há resoluções de ano novo. na verdade, apenas uma, de mudança substancial. a resolução de permitir a potencialidade, o que está por baixo, o que estava antes e foi soterrado pelas obrigações, pelos sonhos alheios, pelo medo de cair, pelas dores intermitentes da morte.


a potencialidade é a palavra, o riso, o silêncio. são os astros, o tarô e as linhas da mão. os amigos, os amores, os poemas. as viagens, as imagens, as miragens. o fogo que ferve a água. o ar que varre a terra. o Buda que me olha, paciente e amoroso. a potencialidade são os gritos, os mitos e os temperos. a pimenta, a cebola, o alho e os doces portugueses. os bicos, os beiços, os abraços. as canetinhas coloridas e o sono junguiano. as estrelas que pontuam a sacada. os sons da alma e suas frias angústias. mapas a desvendar, estradas a rodar, madrugadas a viver. Leminskis a invejar, anéis a perder, cabelo a roxear.


quero o que nem imagino haver. e quero com quem treme pela vida.

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