alguns sentimentos indizíveis rondam minha sacada, especialmente em noite de lua descoberta. acontece comigo como acontece com todo mundo: uma dúvida aqui, um apego à existência ali, um suspiro desconcertado adiante. nos ombros, demônios. na mente, ares, gelos, fogos. basta colocar o pé na sacada, como sina ou maldição.
eu gosto do sol dos domingos de inverno, do sol que se põe e do sol que se esgueira suavemente. mas nada se compara à noite e à lua. o silêncio sob a lua não é constrangimento, é cumplicidade. tagarelar sob as estrelas não é angústia, é intimidade. caminhar à noite. rir à noite. pensar, chorar, fugir. planejar, costurar, desmanchar. ficar no escuro. ouvir o escuro. ter medo.
sempre que chego à sacada e sou raptada pela noite, fico pensando em que parte do meu mapa astral reside esta explicação. se sou leonina — fogo, dia e ardor laranja, como gostam de dizer os manuais simplistas —, em que ponta das combinações vou encontrar este gosto pela lua, pelos sons que me arrepiam, pelo vento escuro e pelas estrelas que não sei nomear? e, pergunta tormentosa, que outras coisas ali se escondem?
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