24 janeiro 2006

intimidade estradeira

são muitos os prazeres de pegar a estrada. o olhar se expande e ganha outra perspectiva. vemos ao longe. um morro, uma nuvem, uma chuva que avança. vacas, ovelhas, plantações. um mundo que tem tempo próprio e necessidades outras. longos silêncios cortados apenas pelas cigarras. e como berram as cigarras.


na Quarta Colônia temos casas do século 19, início do 20. algumas destruídas, outras habitadas. ruas largas, curvas de serpente, estradinhas de ferro. o queijo de colônia com iogurte e a chimia de goiaba comprados nos Giacomini, entre São João do Polêsine e Santa Maria. a sopa de agnolini no restaurante Val de Buia. igrejinhas, videiras e a sedutora textura das plantações de arroz.


em Santa Maria, dói a devastação da ferroviária e do Clube Caixeiral. mas vale um fim de tarde no Seu João, onde encontrei o sorvete de cajá que só tinha comido em Recife e Porto Velho. valem os lindos vitrais da Catedral e o galetinho do Augusto. valem os afetos da família, o carreteiro do Carlinhos, a estrada do Perau, os vira-latas por toda parte. valem as madrugadas.


entre os prazeres de pegar a estrada, porém, nenhum se compara ao prazer da melhor companhia. a alma leve que faz tudo valer, apesar da quase-represa de Dona Francisca e do quase-almoço no La Sorella. o melhor da viagem não é o lugar aonde chegamos, e sim o que nos move enquanto vamos.

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