17 julho 2006
samarra
morrer. a gente conta uma piada e morre de rir. a gente bate a canela e morre de dor. a gente tem um sonho e morre tentando. alguém viaja e a gente morre de saudade. o dia amanhece a 40 graus e a gente morre de calor. a gente toma um porre e morre de dor de cabeça. todo dia o sol morre no Guaíba. se o carro é velho, ele morre na subida. e, quando a timidez é verdadeira, as palavras morrem na garganta.
como é exagerada e imprópria a linguagem. porque morrer não é nada disso, nem perto disso, nem sombra disso. é incompreensível e me lembra a fábula de Samarra, em que a Morte encontra um empregado no mercado de Bagdá no início da manhã. este, completamente apavorado porque ela teria lhe feito um gesto ameaçador, pega emprestado um cavalo de seu amo e foge para Samarra. mais tarde, o amo encontra a Morte e pergunta por que ela tinha ameaçado seu criado. e ela diz “não foi uma ameaça, eu apenas fiquei surpresa ao vê-lo em Bagdá, já que tinha um encontro com ele hoje à noite em Samarra”.
são muitos os mistérios. e a gente morre tentando.
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2 comentários:
*
um mistério eu seu que não:
tua capacidade em transformar sentimentos em palavras.
*
Putz!
Fiquei arrepiada com o desfecho!
Se não dá pra fugir da morte, só nos resta a entrega pra vida!
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