com atraso que ainda me atordoa, acabo de ler a novela “Calafrio”, de Henry James – versão de Portugal para “The turn of the screw”, publicada no Brasil como “A volta do parafuso”. falha grave no meu currículo, mas de Henry James eu só sabia que era irmão de William James, o filósofo do Pragmatismo. sabia que era um grande escritor e que, de certo modo, se você gosta de Virginia Woolf, acabará gostando de James. bem, eu gosto de Virginia Woolf.
meu primeiro contato com ele foi inesperado: na epígrafe da dissertação do Sean. aquela epígrafe ressoou em mim durante muito tempo, pela beleza e pela consciência de si mesmo: “Trabalhamos no escuro – fazemos o que podemos – damos o que temos. Nossa dúvida é nossa paixão e nossa paixão é nosso dever. O resto é a loucura da arte”. eu a reli muitas vezes e pensava por que ainda não lera Henry James.
este livro dormiu na minha estante durante dois anos. silencioso e paciente. neste início de ano achei que era hora de retomar a literatura, uma das paixões que abandonara pelo excesso de outras leituras. e então mergulhei na leitura na esperança de um afago da imaginação, um sopro forte que pudesse me trazer de novo a este universo de personagens e histórias sem jargões da ciência, sem regras da ABNT, sem limites de estilo e sem deadline.
em “A volta do parafuso”, você vai encontrar uma história de suspense do século 19. mais que uma história, vai encontrar uma atmosfera. em uma casa de campo, uma jovem mulher é responsável pela educação de duas crianças. aos poucos, o impossível torna-se tangível e concreto, narrado a partir de um ponto de vista intimista, psicológico, lento e lacunar. o movimento entre a maldade e a inocência, entre o saber e o não saber constrói o eixo da ambigüidade que torna o texto tenso, consistente e formidável.
depois de tantos roteiros óbvios de cinema e tanto enfado moderno com o mesmo que se repete e repete, Henry James me devolveu o prazer dos finais surpreendentes. o prazer de esperar o próximo passo, a página a seguir, o avanço rumo a um psicológico sobre o qual não temos domínio pela racionalidade. o prazer de uma imaginação radical.
isso tudo em meio ao trabalho intenso de escrever um artigo para a Compós. cujo deadline, diga-se, é segunda-feira. e eu aqui, falando de pequenos prazeres. parece que vou arder no inferno do obscurantismo científico. piu.
19 comentários:
ôba! Vou ler Henry James, que não conheço, e vou poder botar a culpa de não acabar o *meu* artigo para a compós na minha amiga Pinta. Melhor que isso, só mudar a maldita deadline da compós, que é de amargar.
Você é a favor da censura em blogs?
Um grande beijinho!
Além de vc e do Sean serem fãs do Henry James, existe um personagem, do Hugh Grant, em Um lugar chamado Notting Hill, que também é um grande fã deste autor. Nunca li. Abs
Maroto, tomei um desamargol pra ver se o prazo desce. ainda tenho um comprimidinho, quer?
Carmencita, só do blog do Trasel. :P
volte sempre, viu? a gerência agradece.
Maitê, e tem um filme do Woody Allen (Os Trapaceiros), que uma das cenas é na frente da casa do Henry James. típico Woody Allen.
pinta, pinta... não faz isso comigo.
C.
tá com ciúme porque o blog do Träsel rankeia bem no Technorati, né? :P
Maroto, não: tô com ciúme porque o blog do Trasel faz crítica vitriólica. ai, eu sempre quis fazer crítica vitriólica!!!
C., quem é ocê?
eu fui ao pai dos burros saber o que é crítica vitriólica. Blog de aluno tb é cultura!
Então por que você apaga comentários feitos no seu blog?
E quanto à sua censura feita ao Marcelinho no blog dele, saiba que eu não aprovo sua atitude. Como você mesma falou, ele está numa fase sensível. Sua pressão pode levá-lo a uma nova crise de pânico.
É isso mesmo. Pode sentir-se culpada aí no alto de suas sandálias estivais.
Um grande beijinho!
Carmencita La Guapa Descalza de la Bienaventurada Virgen María del Monte Carmelo
Carmencita, eu não apago comentários no meu blog. apenas quando é um spam, como o primeiro comentário deste post. vender viagra não é emitir opinião.
censura ao Trasel no blog dele? pressão ao Trasel? eu??? nossa, me dá um pouquinho desse negócio que vc bebeu. deve ser muito bom.
beijinho.
Essa é apenas a "sua" opinião.
Só bebo chazinho ectoplásmico.
Um grande beijinho!
Carmencita La Guapa Descalza de la Bienaventurada Virgen María del Monte Carmelo
pinta: e eu estava aqui me punindo pq parei na metade "o homem do castelo alto" pra poder fazer o paper da compos. maldição!!! e agora vou ter de ler henry james fiquei curiosa. ahhh eu nao aguento mais esse deadline ele ta acabando comigo.
Xon, eu devolvo. mas vou ter que visitar os sebos da Riachuelo e arredores.
Carmencita, e este chazinho vem de Monte Carmelo?
Adri, veja só o esforço para te fazer uma visita. :P
Não. Das quebradas da puna atacamenha.
E não adianta jogar verde. É tudo muito árido.
Um grande beijinho!
Carmencita Freifräulein von Fernsehglotzen
Carmencita, então é coisa fina. ulha.
por onde passo o povo ta envolvido com artigo pra compos...
Se segues escrevendo assim, sobre os pequenos prazeres, näo lhe cairá mal o obscurantismo científico...
A dúvida mora mesmo é entre a paixäo e o dever.
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