11 janeiro 2007

calafrio

com atraso que ainda me atordoa, acabo de ler a novela “Calafrio”, de Henry James – versão de Portugal para “The turn of the screw”, publicada no Brasil como “A volta do parafuso”. falha grave no meu currículo, mas de Henry James eu só sabia que era irmão de William James, o filósofo do Pragmatismo. sabia que era um grande escritor e que, de certo modo, se você gosta de Virginia Woolf, acabará gostando de James. bem, eu gosto de Virginia Woolf.

meu primeiro contato com ele foi inesperado: na epígrafe da dissertação do Sean. aquela epígrafe ressoou em mim durante muito tempo, pela beleza e pela consciência de si mesmo: “Trabalhamos no escuro – fazemos o que podemos – damos o que temos. Nossa dúvida é nossa paixão e nossa paixão é nosso dever. O resto é a loucura da arte”. eu a reli muitas vezes e pensava por que ainda não lera Henry James.

este livro dormiu na minha estante durante dois anos. silencioso e paciente. neste início de ano achei que era hora de retomar a literatura, uma das paixões que abandonara pelo excesso de outras leituras. e então mergulhei na leitura na esperança de um afago da imaginação, um sopro forte que pudesse me trazer de novo a este universo de personagens e histórias sem jargões da ciência, sem regras da ABNT, sem limites de estilo e sem deadline.

em “A volta do parafuso”, você vai encontrar uma história de suspense do século 19. mais que uma história, vai encontrar uma atmosfera. em uma casa de campo, uma jovem mulher é responsável pela educação de duas crianças. aos poucos, o impossível torna-se tangível e concreto, narrado a partir de um ponto de vista intimista, psicológico, lento e lacunar. o movimento entre a maldade e a inocência, entre o saber e o não saber constrói o eixo da ambigüidade que torna o texto tenso, consistente e formidável.

depois de tantos roteiros óbvios de cinema e tanto enfado moderno com o mesmo que se repete e repete, Henry James me devolveu o prazer dos finais surpreendentes. o prazer de esperar o próximo passo, a página a seguir, o avanço rumo a um psicológico sobre o qual não temos domínio pela racionalidade. o prazer de uma imaginação radical.

isso tudo em meio ao trabalho intenso de escrever um artigo para a Compós. cujo deadline, diga-se, é segunda-feira. e eu aqui, falando de pequenos prazeres. parece que vou arder no inferno do obscurantismo científico. piu.

19 comentários:

Maroto disse...

ôba! Vou ler Henry James, que não conheço, e vou poder botar a culpa de não acabar o *meu* artigo para a compós na minha amiga Pinta. Melhor que isso, só mudar a maldita deadline da compós, que é de amargar.

Carmencita disse...

Você é a favor da censura em blogs?

Um grande beijinho!

Anônimo disse...

Além de vc e do Sean serem fãs do Henry James, existe um personagem, do Hugh Grant, em Um lugar chamado Notting Hill, que também é um grande fã deste autor. Nunca li. Abs

Marcia disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Marcia disse...

Maroto, tomei um desamargol pra ver se o prazo desce. ainda tenho um comprimidinho, quer?

Carmencita, só do blog do Trasel. :P
volte sempre, viu? a gerência agradece.

Maitê, e tem um filme do Woody Allen (Os Trapaceiros), que uma das cenas é na frente da casa do Henry James. típico Woody Allen.

Anônimo disse...

pinta, pinta... não faz isso comigo.
C.

Maroto disse...

tá com ciúme porque o blog do Träsel rankeia bem no Technorati, né? :P

Marcia disse...

Maroto, não: tô com ciúme porque o blog do Trasel faz crítica vitriólica. ai, eu sempre quis fazer crítica vitriólica!!!

Marcia disse...

C., quem é ocê?

Maroto disse...

eu fui ao pai dos burros saber o que é crítica vitriólica. Blog de aluno tb é cultura!

Carmencita disse...

Então por que você apaga comentários feitos no seu blog?

E quanto à sua censura feita ao Marcelinho no blog dele, saiba que eu não aprovo sua atitude. Como você mesma falou, ele está numa fase sensível. Sua pressão pode levá-lo a uma nova crise de pânico.

É isso mesmo. Pode sentir-se culpada aí no alto de suas sandálias estivais.

Um grande beijinho!

Carmencita La Guapa Descalza de la Bienaventurada Virgen María del Monte Carmelo

Marcia disse...

Carmencita, eu não apago comentários no meu blog. apenas quando é um spam, como o primeiro comentário deste post. vender viagra não é emitir opinião.

censura ao Trasel no blog dele? pressão ao Trasel? eu??? nossa, me dá um pouquinho desse negócio que vc bebeu. deve ser muito bom.

beijinho.

Carmencita disse...

Essa é apenas a "sua" opinião.

Só bebo chazinho ectoplásmico.

Um grande beijinho!

Carmencita La Guapa Descalza de la Bienaventurada Virgen María del Monte Carmelo

Adriana Amaral disse...

pinta: e eu estava aqui me punindo pq parei na metade "o homem do castelo alto" pra poder fazer o paper da compos. maldição!!! e agora vou ter de ler henry james fiquei curiosa. ahhh eu nao aguento mais esse deadline ele ta acabando comigo.

Marcia disse...

Xon, eu devolvo. mas vou ter que visitar os sebos da Riachuelo e arredores.

Carmencita, e este chazinho vem de Monte Carmelo?

Adri, veja só o esforço para te fazer uma visita. :P

Carmencita disse...

Não. Das quebradas da puna atacamenha.

E não adianta jogar verde. É tudo muito árido.

Um grande beijinho!

Carmencita Freifräulein von Fernsehglotzen

Marcia disse...

Carmencita, então é coisa fina. ulha.

N.C. disse...

por onde passo o povo ta envolvido com artigo pra compos...

Anônimo disse...

Se segues escrevendo assim, sobre os pequenos prazeres, näo lhe cairá mal o obscurantismo científico...
A dúvida mora mesmo é entre a paixäo e o dever.